Ao leitor,

A REPOM no. 3 vem com novidades na sua estrutura: além dos ensaios, conta agora com mais duas seções: entrevista e contraponto. Tais seções permitirão a veiculação de textos de interesse na área da música popular, com uma feição menos acadêmica, sem deixar de apresentar aspectos relevantes para a pesquisa na área.

Temos neste número quatro ensaios, dois deles dedicados ao universo da música caipira. Em “Música caipira e humor”, Allan de Paula Oliveira analisa a utilização do humor como uma forma de a música caipira, uma vez posta fora do centro da produção cultural brasileira, devolver a estranheza na forma de humor. Traz algumas pérolas de gênero, entre elas a impagável “Romance de uma Caveira”, de Jararaca e Ratinho.

Já no ensaio “A música como sistema social”, Abel S. Viana discute os discursos de cunho essencialista que costumam definir a música caipira. O autor explora as ambigüidades presentes em tais discursos, procurando demonstrar como eles constroem um imaginário coeso, quando o gênero dialoga intensamente com os meios de produção cultural.

Em “Sonoridades d’O Corpo”, Adriane Rodrigues de Oliveira analisa o espetáculo “O Corpo”, apresentado pelo grupo mineiro de mesmo nome no ano de 2000 para comemorar 25 anos de existência. Concentra-se na materialidade musical, buscando nela as interseções com as temáticas relacionadas ao corpo, que são tratadas na montagem e a inscrição da sonoridade dentro da teia de linguagens que configuram um espetáculo de dança.

A seção Contrapontos apresenta duas contribuições. Em “Mangue beat, Mané beat e outros beats”, Luciano Azambuja desenvolve uma interessante incursão sobre as formas pelas quais o mangue beat reverbera entre um grupo de artistas de Florianópolis, que procurou desenvolver sua produção seguindo os passos do movimento pernambucano, buscando laços com a cultura local. No texto “No beabá da canção: ensino e música popular”, Fred Góes oferece um rico panorama da música popular brasileira, tendo em vista demonstrar o quanto sua trajetória pode ser criativamente utilizada nos ensinos básico e médio devido ao próprio valor do cancioneiro popular na memória afetiva de alunos e professores.

A nova seção de entrevista dá a palavra a Fred Zero Quatro, do Mundo Livre s/a. Na entrevista, concedida a Luciano Azambuja em Florianópolis na última visita do grupo à cidade, o artista revela, entre outras coisas, a própria origem de seu nome artístico e apresenta uma análise interessante da trajetória do grupo no contexto da música brasileira. Fred fala, ainda, das inquietações que deram origem à demanda pela configuração de uma cena cultural na cidade de Recife, da surpresa em relação à longevidade do efeito mangue beat e da confluência entre o movimento e a pop art.

Aos pesquisadores interessados em publicar na REPOM, mantemos o convite de sempre. Basta entrar em contato com nosso endereço eletrônico. Já estamos pensando no número 4 da revista. Nos encontramos lá.

Emílio Gozze Pagotto e Tereza Virginia de Almeida