do que é feito o samba?
Marcelo Camelo
Em 1929, Cornélio Pires, humorista e produtor, mandou prensar, às suas próprias custas, os primeiros discos de música caipira. A aposta foi alta, mas o êxito também: a vendagem superou a dos grandes nomes da época, fazendo surgir um poderoso filão da indústria fonográfica. Entretanto, uma década depois, o mesmo Cornélio afirmava, com muito pesar, ter andado pelas terras do interior paulista, mineiro e fluminense, encontrando apenas vestígios da cultura caipira. Os motivos para sua conclusão são claramente expostos:
quando releio o que escrevi em 1910 e confronto com a realidade de hoje, fico triste. O automóvel, o telefone, o rádio invadiram as fazendas e os sítios. Acho que são os meios rápidos de comunicação que tiraram o encanto da roça. [ 1 ]
Mas quanto à música caipira, introduzida no meio fonográfico anos antes pelo próprio Cornélio? Não sofrera influências negativas dos meios de comunicação? E a atitude de transformar uma manifestação folclórica em gênero comercializável não estava contribuindo para o fim da cultura caipira? Em outras palavras, é possível desvincular a mídia da própria construção do estilo caipira?
Experiências como a de Cornélio mostram a complexidade do debate sobre a cultura caipira e, por conseqüência, a música que a representa. Aliás, em seu argumento é possível ver algumas idéias que ainda hoje são usadas de forma questionável no debate sobre a música caipira. A principal delas consiste na definição da cultura caipira a partir de sua genuinidade, o que muitas vezes resulta no repúdio às mudanças. Mas é interessante destacar que, grosso modo, esta premissa encontra-se em vários textos, inclusive no mais importante estudo social sobre o caipira: Os parceiros do Rio Bonito (1971), obra que resultou da tese de doutorado defendida por Antonio Candido em 1954:
A cultura do caipira, como a do primitivo, não foi feita para o progresso: a sua mudança é o seu fim, porque está baseada em tipos tão precários de ajustamento ecológico e social, que a alteração destes provoca a derrocada das formas culturais por eles condicionada. [ 2 ]
Entretanto, a posição de Candido é bastante diferente de outras analisadas aqui. Em primeiro lugar, porque não há saudosismo, mas uma constatação do caráter precariamente autárquico da cultura caipira. Além disto, consistindo num trabalho sociológico, apenas com um certo deslocamento pode-se utilizar Os parceiros como referência de análise da música caipira. Para Candido, “caipira’ exprime um modo de ser, um tipo de vida, nunca um tipo racial, além de restringir-se quase sempre, pelo uso inveterado, à área de influência histórica paulista”.[ 3 ] Ao contrário, o estilo musical não se restringe a um modo de vida interiorana, e a dificuldade em se lidar com o fato de que citadinos componham ou interpretem música caipira comprova esta complexidade.
José Ramos Tinhorão (1974) é um exemplo de teórico que interpreta a música através de critérios sociológicos. Comentando as primeiras gravações de música caipira, produzidas por Cornélio Pires, curiosamente afirma:
essas gravações pioneiras de modas caipiras da área de São Paulo conservavam muito fielmente o espírito da região de onde provinham as duplas de instrumentistas e cantores [...], pode-se dizer que, apesar de apresentar-se sob a forma de produto industrial e comercial, tais composições ainda seriam folclóricas. [ 4 ]
Definindo o caipira segundo hábitos sociais, Tinhorão subordina a música à organização social. Todavia, este pressuposto somente dá conta da expressão folclórica do caipira. A música, objeto analisado pelo autor, originalmente pertence ao caipira, mas apenas neste nível folclórico que se aproxima da definição de caipira formulada por Candido. O exemplo de Tinhorão é importante, pois expõe que esta perspectiva social de análise do estilo está presente não apenas nos comentários saudosistas daqueles que cultuam a música caipira.
Este ensaio pretende mostrar que o discurso da essência caipira é tão poderoso a ponto de influenciar praticamente tudo que se fala a respeito da música caipira. Mas para compreender e questionar tal discurso essencialista, é necessário primeiramente pensar a música caipira como um sistema social, um sistema dinâmico não apenas constituído, mas também constituinte de muitos fatores, entre os quais a própria mídia. Ou seja, é necessário avaliar até que ponto as mudanças na música caipira descaracterizam-na, e até que ponto fazem parte do próprio estilo.
1. A TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS
Em “Teoria da história, historiografia e diacronologia”,
ensaio presente na obra Histórias de literatura (1996), organizada
por Heidwn Krieger Olinto, Gebhard Rusch afirma que algumas posições
teóricas, surgidas principalmente em meados do século XX, questionaram
a realidade do objeto de estudo da história. Com base na teoria dos
sistemas autopoiéticos, de Humberto R. Maturana, o autor justifica
a impossibilidade de o ser humano atingir a “verdade” sobre qualquer
acontecimento. Rusch lista as principais particularidades dos sistemas autopoiéticos,
como estarem organizados ciclicamente, fechados operacionalmente, e estruturalmente
acoplados. Além disto, uma outra característica apontada por
Maturana é a de os seres vivos possuírem um sistema nervoso
que coordena as atividades sensoriais e reflexivas. É através
do sistema nervoso que as operações expandem-se aos outros.
Os seres humanos, segundo tal teoria, não interagem com os mesmos objetos,
mas com objetos interpretados a partir de sua cognição subjetiva.
Apenas haveria comunicação entre os homens pelo fato de os próprios
sistemas cognitivos interagirem entre si.
Assim, a idéia de passado, cuja compreensão pauta-se geralmente
na sucessão matemática de tempo transcorrido, é problematizada
por Rusch. O tempo consistiria numa construção intelectual do
homem, tendo em vista que apenas sistemas cognitivos com considerável
complexidade poderiam adquirir consciência dele. Depois de conceber
de um ponto de vista construtivista a noção de tempo, Rusch
analisa conceitos normalmente empregados no campo das ciências humanas,
como memória e testemunho. Os discursos baseados na faculdade da memória
em indicar um passado são problemáticos, pois é a existência
de um passado que endossa o uso destas memórias. Na verdade, a memória
representa um processo de cognição, isto é, de construção,
e não um depósito de representações do real. Neste
sentido, os fatos trazidos pela memória adquirem sua significação
de documento através de articulações de histórias.
Isto tem conseqüências importantes, pois os conceitos teóricos
seriam formados a partir de tais relações.
Os princípios e as modalidades de nossa cognição, nossa maneira de formação de conceito, de construção de unidades cognitivas macroestruturais, etc. são o motivo pelo qual compreendemos o rumo dos acontecimentos do mundo somente em forma de narrativas e pelo qual podemos aceitar representações deste caminho, ou achá-las plausíveis, se e somente se elas desenvolvem uma conexão entre as histórias por meio de modelos e teorias consensuais, por exemplo, de homem, sociedade, desenvolvimento e mudança, dos objetos temáticos em questão (por exemplo, da literatura). [ 5 ]
Como qualquer teoria consiste em uma construção e não
em uma recuperação, trabalhos científicos devem estar
baseados não em “verdades históricas”, mas no consenso
e na plausibilidade.
Normalmente recorre-se à memória para afirmar que no passado
a música caipira era genuína. Todavia, tendo em vista que as
“verdades históricas” – nas quais se baseia sobremaneira
a defesa de uma essência caipira – não são mais
do que construções coletivas formuladas no presente, não
seria vão qualquer estudo acadêmico sobre a música caipira?
Na verdade, longe de diminuir o poder de trabalhos historiográficos,
a perspectiva de Rusch reforça a função destas pesquisas.
Pensar os conceitos de memória e testemunho partindo de intercognições
subjetivas possibilita potencializá-los como construções
sociais e políticas.
Desse ponto de vista, a historiografia moderna – assim como outrora a narrativa de mitos – está funcionalmente unida à necessidade atual de construções historiográficas, por exemplo, a partir das condições da construção de identidade pessoal e social, das exigências de legitimar e sustentar nossas ações e do esforço para atingir visões de mundo e de si próprio coerentes. E é dessa necessidade que a historiografia tira a sua relevância e legitimidade. [ 6 ]
A partir de uma perspectiva construtivista, ao contrário de uma história
homogênea recuperada narrativamente, o argumento de trabalhos historiográficos,
inclusive sobre a música caipira, pode se tornar positivamente mais
forte, uma vez que de saída assume-se posição política.
A visão homogênea acaba legitimando, sob o viés da “descoberta”
e da “verdade” histórica, discursos muitas vezes questionáveis.
A relevância do lugar político ocupado pelo feminismo latino-americano,
por exemplo, vem demonstrar a eficiência do constante questionamento
a instituições e discursos positivistas, intocáveis até
décadas atrás.
Conhecedor dos conceitos de Rusch, Siegfried J. Schmidt, em “Sobre a
escrita de histórias da literatura”, texto também presente
em Histórias de Literatura (1996), lança uma questão
inquietante: como podemos fugir da perspectiva hegemônica, uma vez que
qualquer definição implica um modelo diferente, com determinada
seleção de fatos, obras e discursos? O desafio lançando
por Schmidt para os historiadores da literatura é o de unir diferentes
textos literários; criar a transição entre eles, sem
que tenhamos de excluir outra série de obras. Ou seja, como transitar
por tais obras – e aqui podemos incluir a canção –
sem lançar mão do poder concedido por alguma disciplina ou discurso
já institucionalizados?
Schmidt afirma que esta crise desestabiliza a noção de disciplina,
permitindo ao historiador ser mais rigoroso em seus procedimentos teóricos.
O primeiro passo seria a consciência de que qualquer análise
consiste em “construir” uma relação entre acontecimentos
que, se não são aleatórios, são, pelo menos, atravessados
por nossa subjetividade. Pautando-se nos conceitos de Rusch, Schmidt sugere
que a literatura seja pensada como
um sistema social de ações que focalizam fenômenos que, por sujeitos atuantes, são considerados literários de acordo com suas normas e expectativas (as chamadas ações literárias). [...] Os papéis fundamentais, nos sistemas literários modernos, são os de produção, distribuição, recepção e pós-processamento de textos literários. As concatenações de ações literárias são denominadas processos literários. O conjunto dos processos literários em uma sociedade forma o sistema literário. [ 7 ]
Outro teórico citado por Schmidt é Niklas Luhmann, cujo texto
“A obra de arte e a auto-reprodução da arte” também
se encontra em Histórias de Literatura (1996). Baseado na
noção de autopoiese, Luhmann afirma que “todas as unidades
do sistema adquirem a sua unidade pelo próprio sistema, o que se refere
tanto a estruturas e processos, quanto aos diversos elementos indecomponíveis
no sistema”. [ 8 ] Entretanto, concluir que a arte corresponde a um
sistema autopoiético apenas indica que ela possui procedimentos internos
de sustentação. A forma como ela se reproduz não está
esclarecida, pois o sistema artístico autopoiético pode se realizar
de muitas maneiras. Em outras palavras, sabemos que uma obra serve de modelo
a outras, mas não sabemos como. Para tratar da relação
das obras no sistema artístico, o autor lança mão de
um conceito funcional de estilo.
É função do estilo organizar a contribuição da obra artística para a autopoiese da arte e, de certo modo, contrariar a intenção da própria obra de arte caracterizada pela imanência. O estilo corresponde à autonomia da obra de arte individual, contradizendo-a ao mesmo tempo. Ele a respeita e, mesmo assim, retira-lhe um valor suplementar. Permite que a obra de arte mantenha a sua unidade, mas desenvolve simultaneamente relações de contigüidade com outras obras artísticas. [ 9 ]
O estilo consiste na relação entre sistemas artísticos
e o espaço social, tanto garantindo a produção de elementos
do mesmo sistema, quanto delimitando o campo desta ocorrência. A obra
de arte lega às demais a possibilidade de inovação, limitando-as,
porém, a uma área de ocorrência, sob pena de não
ser reconhecido nelas o estilo.
Ainda que Luhmann, Schmidt e Rush tenham como objeto de estudo a história da literatura, a perspectiva construtivista, em específico os conceitos de sistema social e de estilo, são muito relevantes para novas possibilidades teóricas e metodológicas de estudos sobre a música caipira. O quanto tais conceitos desestabilizam as histórias hegemônicas torna-se evidente na análise de uma publicação recente, cujo mérito principal consiste no volume de informações relevantes sobre o assunto: Viola caipira: da roça ao rodeio, de Rosa Nepomuceno.
2. A HISTÓRIA DA MÚSICA CAIPIRA DE ROSA NEPOMUCENO
A jornalista Rosa Nepomuceno atribui a Monteiro Lobato a
responsabilidade pela imagem pejorativa que foi sendo historicamente construída
em torno do caipira. Como o oposto de Lobato, a jornalista cita Cornélio
Pires, para quem, segundo ela, o caipira era “divertido, perspicaz,
alegre, musical, pitoresco”. [10] Segundo a autora, “os desejos
singelos, modestíssimos” do caipira irritavam Monteiro Lobato,
que o teria reduzido a um sujeito de cócoras. “Quando resolveu
falar dele [do caipira], o escritor de Taubaté – que também
foi fazendeiro – o tratou como ignorante, indolente, destruidor das
matas, criando a triste figura do Jeca Tatu.” [11] Ao expor a apreensão
de Monteiro Lobato sobre o caipira, Nepomuceno dá mais destaque aos
primeiros cinco anos de produção do escritor do que aos trinta
restantes. A perspectiva de Lobato, que começa a se alterar logo após
a publicação de Urupês em 1917, e pode ser ilustrada
com a campanha sanitária desenvolvida junto à Fontoura, é
vista pela jornalista como uma derrota do escritor no debate sobre o caipira:
“Sentindo os golpes, Lobato recuou, saindo-se com um artigo [...] no
qual ensaiou a retratação”. [12]
Ao longo do livro, a autora constata que a indústria cultural influenciou
negativamente a cultura caipira, inclusive sua música. Mesmo afirmando
que a cultura caipira não vai morrer – contraditoriamente, graças
à tecnologia que aproximou diferentes pessoas interessadas por este
estilo –, sua crítica aos recursos elétricos nas músicas,
aos grandes espetáculos dos rodeios, e até ao transporte motorizado,
mostra que o desejo de Nepomuceno era que o campo permanecesse sem nenhum
elemento urbano.
No século XX, o homem do campo transmutou-se, camaleônico, envolvido pela cultura do forasteiro, seduzido pelas novidades da civilização, querendo o conforto de alpargatas no lugar dos pés descalços, da roçadeira substituindo a foice. Já nos anos 40, [...] o escritor e divulgador do universo rural Cornélio Pires reclamava que o caipira não era mais o mesmo. [...] Para quem tinha naquele mundo sua matéria-prima de trabalho, a constante busca do pitoresco começava, já naquela época, a ser vã. O progresso chegava, engolindo o sertão. [13]
Entretanto, não apenas Cornélio Pires, com seu caipira “singelo
e modestíssimo”, é lembrado pela jornalista. Ao falar
de um LP de Pedro Chiquito e Nhô Serra, cuja contracapa é assinada
por Antonio Candido, Nepomuceno lança a seguinte nota:
Antonio Candido (Rio de Janeiro, 1918) é autor da “bíblia” sobre o universo caipira paulista, Os Parceiros do Rio Bonito, José Olímpio, 1964, resultado de tese de mestrado [sic] feita entre 1946 e 1954. Sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, publicou diversos livros dedicados à teoria e à história da literatura. [14]
Esta é a única afirmação que Rosa Nepomuceno faz
sobre Candido. Ao substituir uma análise da obra por um elogio –
Os parceiros do Rio Bonito é a “bíblia”
sobre caipira –, a autora deixaria evidente sua filiação.
Todavia, a respeito dos problemas da vida rural em meados do século
XX, Candido afirma o oposto da autora: “não se trata evidentemente
de permitir ao caipira recriar as condições de relativo equilíbrio
da sua vida pregressa, isto é, ajudá-lo a voltar ao passado”.
[15]
Nepomuceno não demonstra rigor ao analisar os diversos discursos sobre
o caipira. Grosso modo, elogiam-se aqueles que amam ou, pelo menos,
“aceitam” o caipira, como o apaixonado Cornélio ou o sociólogo
Antonio Candido, ao passo que os outros são preconceituosos e até
antipatrióticos, não importando se Monteiro Lobato tenha defendido
a reforma agrária antes deste assunto ter chegado às academias.
Além do respeito exigido para com um sociólogo da USP, a benevolência
de Candido justifica que Nepomuceno não critique seu discurso, haja
vista que, como Lobato, Candido afirmou ser “virtual” o caipira
criado por Cornélio. [16] Aliás, como veremos a seguir, a própria
seleção do que se considera música caipira baseia-se
muitas vezes na forma como os músicos, supostamente os principais representantes
da tradição, comportam-se perante o rótulo de caipira.
Viola caipira divide-se em duas partes. Na primeira, contempla-se
o lugar ocupado pela cultura caipira, com destaque para a música, na
história cultural do Brasil. Já a segunda parte do livro, um
reflexo da metodologia e dos conceitos expostos antes, é composta por
uma série de pequenas biografias de músicos. Pelo fato de concentrar
as questões mais importantes, a seguir será analisada a primeira
parte.
Com o intuito de destacar a diferença entre a atual e a “verdadeira”
música caipira, Nepomuceno inicia seu livro com uma narrativa na qual
se opõem as vidas de dois artistas, coincidentemente falecidos em 1998,
representantes de momentos distintos da música caipira no Brasil: João
Pacífico, autor da famosa Cabocla Teresa, e Leandro, que compunha
dupla com seu irmão, Leonardo.
Pacífico, falecido em 30 de dezembro, viveu até os 90 anos.
Tempo suficiente para participar não apenas do crescimento da cidade
de São Paulo, mas do surgimento de um grande mercado fonográfico
cujas portas se abriram para a música caipira principalmente na década
de 1950.
Testemunhou todas essas transformações, pisou tapetes vermelhos, vestiu ternos de linho, recebeu homenagens e, por viver nesse país talvez jovem demais para entender seus velhos artistas, velhos valores e velhas histórias, morreu pobre, isolado. [17]
Em 23 de junho do mesmo ano, falecera Leandro, aos 37 anos. Ele e o irmão,
vindos do interior de Goiás, haviam desembarcado em São Paulo
em 1983, deixando para trás o trabalho na lavoura de tomate. Assim
como Pacífico, chegaram com esperança de viver através
de sua música. Porém, segundo Nepomuceno, a música caipira,
chamada agora de sertaneja, já era muito diferente:
Com uma fórmula híbrida que juntava distantes referências às toadas de João Pacífico e arrasta-pés de Tonico e Tinoco, às baladas de Roberto Carlos, às guitarras do rock e ao som dos caipiras da América do Norte, Leandro foi o típico representante de uma geração de jovens de origem rural, ansioso por se ajustar a outro perfil: o sertanejo-pop, ou melhor dizendo, pop-sertanejo, abençoado pelas grandes gravadoras. [18]
O lugar da música caipira ingênua foi ocupado por uma música
descaracterizada, pasteurizada para as massas. E, por conseqüência,
a viola de dez cordas deu lugar aos instrumentos elétricos e ao som
amplificado. A indústria fonográfica seria responsabilizada
por uma série de mudanças e, conseqüentemente, pelo esquecimento
da “tradicional” música caipira, representada por João
Pacífico. O discurso de Nepomuceno traz dois pressupostos hegemônicos
que devem ser analisados com rigor: a construção de uma imagem
nacionalista do caipira, no que se baseiam as críticas a elementos
estrangeiros; e a responsabilidade atribuída à mídia
pela decadência da música caipira, devido à introdução
de elementos urbanos e, também, estrangeiros.
Nepomuceno pauta-se num suposto caráter nacionalista da música
caipira para defender sua preservação, exatamente o argumento
utilizado contra Lobato no debate sobre o Jeca Tatu. Segundo Edward Said [19],
o nacionalismo, em seu sentido danoso, concebe o mundo unilateralmente, pois
se sustenta na oposição a outros estados. A formação
de um estado nacional tem por base a construção simbólica
de uma identidade comum. Para isto, são forjadas representações,
como a do caipira no Brasil. Na perspectiva nacionalista, a cultura é
entendida como oposição. Se o conceito de música caipira
de Nepomuceno não suporta mudanças, é porque elas sempre
podem ser vistas como ameaça.
Sob o viés da brasilidade, a jornalista filia a projeção
da cultura caipira ao movimento modernista, usando para tanto a relação
de Inezita Barroso com Mario de Andrade.
A grande dama da vertente tradicional, Inezita Barroso, observa que o termo caipira “passou a ser pejorativo, sinônimo de brega, mal-vestido, idiota, velho, quando é ser exatamente o contrário. Caipira é aquele que se conserva ligado à terra, à cultura original”, conceitua, dentro do mais puro ideal modernista. Professora de folclore de universidades paulistas, Inezita foi influenciada, no começo da carreira, pela obra de Mário de Andrade e a do compositor Marcelo Tupinambá. [20]
A brasilidade da música caipira, de acordo com o “ideal modernista”,
aparece como justificativa para sua apreciação. Entretanto,
da mesma forma que o argumento da nacionalidade permitiu a Lobato dizer que
o caipira preguiçoso e doente era um péssimo símbolo
nacional, é possível afirmar que a música caipira, apesar
de genuinamente brasileira, é ruim. Assim como os opositores de Lobato
não apresentavam argumentos relevantes a respeito das qualidades do
caipira, Nepomuceno não se baseia em qualidades musicais.
A substituição do critério musical pelo argumento da
autenticidade está intimamente ligada à idéia de que
a introdução de instrumentos, como guitarras, e de estilos,
como guarânias, descaracteriza a música caipira. Entretanto,
é interessante como esta ameaça apenas é considerada
em termos de culturas “estrangeiras”. Num âmbito vertical,
isto é, da relação entre cultura popular e cultura erudita,
não se vê perigo. Há um exemplo particular que mostra
o quanto, na verdade, a cultura caipira encontra-se tutelada por este conhecimento
intelectual. Num momento em que trata dos estilos rurais, como o congado,
o cateretê ou a Folia de Reis, Nepomuceno afirma a existência
de tradições ainda genuínas, não influenciadas
pela cultura urbana.
Nos cantões mais diversos do país, portanto, estão vivas as manifestações características da cultura da viola caipira. Lá no meio do mato, numa pequena comunidade de Cachoeira do Guilherme, na Estação Ecológica da Juréia-Itatins, litoral sul paulista, por exemplo, o carnaval dura cinco dias, com bailes puxados a viola. E se festejam as Folias de Reis, comandadas pelo violeiro Pradel, que é guarda do parque. [21]
Após esta descrição, há a seguinte
nota: “Descoberto pelo professor Miguel Mahfound, durante a pesquisa
para sua tese de mestrado sobre Folias de Reis para a Universidade Federal
de Minas Gerais”. [22] Em primeiro lugar, ressalta-se uma visão
pelo menos pretensiosa, pois na verdade a “descoberta” existe
apenas sob o ponto de vista acadêmico. É importante lembrar que
entre as justificativas para defender a cultura caipira está o prejuízo
que as mudanças causariam para as pessoas do interior. Pelo menos neste
caso, são os próprios pesquisadores responsáveis, não
apenas pelo contato da cultura caipira com a urbana, mas pela incorporação
de mais um elemento àquele sistema: o expectador, aquele cuja participação
está limitada ao olhar. Há uma diferença marcante entre
a festa e a apresentação. Da festa todos os envolvidos participam.
Logo, a postura dos músicos é muito diferente de estar num palco.
Não há nada de condenável na apresentação
para um público expectador, mas é importante perceber que não
há um lugar seguro até o qual a cultura urbana pode chegar sem
que haja mudança na cultura considerada genuína.
Porém, o interesse do meio intelectual pela música caipira é
considerado um verdadeiro aval de qualidade.
Passando de mão em mão por esse Brasil, ela [a viola] foi parar nos apartamentos de classe média urbana, de jovens saídos das universidades. Cornélio Pires nunca imaginaria uma coisa dessas. Ouvidos acostumados ao som dos Beatles, de João Gilberto, Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso, eles descobriram, a partir da década de 70, aquela sonoridade antiga, ampla, rica, e aprenderam a afinar suas cordas, em alguma das dezenas de afinações existentes, trazendo sangue novo à velha cultura, retrabalhando seu acervo de melodias, seus temas e poesia. Pegar o instrumento e tocá-lo implicou ouvir os mitos caipiras, como João Pacífico, Tonico e Tinoco, e ainda os grandes violeiros, como Tião Carreiro. [23]
Para Nepomuceno, esta “classe média”
intelectualizada é composta por pessoas que sabem valorizar e respeitar
a cultura caipira. Tal mudança, ao contrário das outras, é
vista como uma reforma positiva. Inclusive, os “novos-caipiras”
se comunicam por sites na Internet. Curiosamente, a incorporação
de elementos urbanos, até então considerada ameaça, transforma-se
em responsável pela revigoração da música.
Renato Teixeira, que compôs “Romaria”, é citado como
um dos novos representantes da cultura caipira, ao passo que Chitãozinho
e Xororó ilustram, para Nepomuceno, a sua decadência. Entretanto,
se Chitãozinho e Xororó se afastaram da música caipira
com instrumentos elétricos e um estilo pop, Renato Teixeira, com melodias
e versos extremamente complexos, também está muito longe da
música caipira tradicionalmente conhecida. Assim como na questão
entre Lobato e Cornélio Pires, ao menos um fator que justifica a diferença
entre o “novo-caipira” e o “pop-sertanejo” é
simbólico: diz respeito a assumir-se ou não como caipira. A
dupla, vinda do interior do Paraná, afirma nunca ter gostado do nome
artístico com que fora batizada pelo radialista Geraldo Meirelles.
Já Renato Teixeira, apesar de ser “amigo de Chico Buarque, Caetano
Veloso e leitor do poeta concreto Haroldo de Campos” [24], é
um declarado amante da cultura caipira. Além do desprezo por quem não
“honra” a cultura, podemos perceber um juízo estético,
uma vez que a origem dos novos-caipiras contesta o pressuposto da genuinidade.
Na verdade, estão em confronto uma cultura letrada, com construções
poéticas sofisticadas, e uma cultura de massa agressivamente difundida
pela indústria fonográfica. Nepomuceno opta pelas aliterações
cantadas à viola por Renato Teixeira (“Sou caipira, Pirapora”)
ao romantismo piegas e pseudo-urbanizado de Chitãozinho e Xororó
(“Um pedacinho dela que existe / Um fio de cabelo em meu paletó”).
Os contrastes de Renato Teixeira e Chitãozinho e Xoxoró, ou
de Leandro e Pacífico, expõem o fator talvez mais importante
para pensarmos a música caipira no século XX: a mídia.
Todas as questões apontadas anteriormente no discurso de Nepomuceno
dizem respeito, de alguma forma, à relação da música
caipira com um público que socialmente não faz parte do universo
rural. A veiculação das canções caipiras sempre
esteve ligada ao rádio e à indústria fonográfica.
Nepomuceno chega a considerar as primeiras gravações, feitas
no final da década de 1920 por Cornélio Pires, como um marco
para o estilo caipira. Para ela, o “legítimo cantador da roça”
elevava-se à artista. Entretanto, nesta época não é
apenas a música caipira que surge no cenário nacional, outros
estilos populares destacam-se com a massificação do rádio.
As primeiras transmissões, na década de 20, eram amadoras e voltadas para a cultura erudita, elitizada. A partir de 30, passaram a ter também caráter de diversão. [...] Fabricantes de remédios, perfumes, artigos de vestuário e alimentos, condicionavam seus reclames às atrações capazes de segurar o público. Os artistas populares rapidamente dominaram os microfones. Vendiam discos, lotavam salas de espetáculos, viajavam por todo o país [...]. Na diversificação desse cardápio radiofônico surgiram horários inteiramente dedicados ao público que migrara do interior. Os programas apresentados por caipiras de primeira linha eram muitos, em São Paulo e no Rio de Janeiro [...] Muitos violeiros, compositores e humoristas foram revelados nesses microfones. [25]
Na descrição deste cenário, há a possibilidade
de abordar fatores que atuavam no desenvolvimento da música caipira:
o êxodo rural, o espaço conquistado no rádio pelos artistas
populares, o início da indústria radiofônica. Entretanto,
Nepomuceno não analisa com maior profundidade este momento. De forma
até simplista, a autora considera a evolução dos meios
rápidos de comunicação prejudicial para a música
caipira. Numa apreensão mais rigorosa, Luiz Tatit (2004) destaca a
década de 1930 como fundamental para os destinos da canção
popular.
Não é de se estranhar [...] que a consolidação social e cultural do trabalho dos cancionistas se efetivasse ao tempo que também se definiam a gravação elétrica (1927) e a independência financeira das emissoras de rádio (1932). A melhoria das condições técnicas do registro sonoro e a liberação do maior difusor de voz já inventado para a concorrência comercial e, por conseguinte, para o investimento em programas dedicados à canção popular exigiam pronta resposta dos locutores e cantores encarregados em alimentar continuamente o novo veículo. Havia uma encomenda tácita no ar e muitos jovens que se sentiam hábeis para criar canções, individualmente ou em parceria, passaram a produzir com afinco na esperança de assegurar um lugar de destaque num meio que se tornava cada vez mais competitivo. [26]
Enquanto Tatit considera a evolução dos meios de comunicação
como um fator formador da canção, isto é, que compõe
o seu sistema, Nepomuceno entende a mídia apenas como divulgadora da
música caipira e reveladora de artistas. Não avalia, por exemplo,
a maneira como os músicos foram influenciados pelas exigências
técnicas e comerciais do rádio. E além desta limitação
teórica, há uma contradição no próprio
discurso da autora, pois se a mídia influenciou negativamente a música
caipira, o êxito comercial não se revela como um critério
de inclusão pertinente.
Os anos de 1950 representam, segundo Nepomuceno, o apogeu da música
caipira. Todavia, este apogeu justifica-se principalmente em termos de difusão
no rádio e vendagem de discos, pois é a partir desta década
que a música caipira começa a sofrer fortes influências.
Antonio Candido afirma que as condições que durante séculos
proporcionaram a organização social da região do interior
de São Paulo já não existiam, devido principalmente à
incorporação de valores urbanos em detrimento aos rurais, baseados
na religião e nas tradições populares. Não é
surpresa que a música caipira “genuína” também
tenha sofrido transformações. Apesar de apontar a existência
de um êxodo rural desmedido em meados do século, motivado pela
condição miserável no campo, a autora não dá
a importância devida a isto. Ora, se as pessoas estavam indo para a
cidade, isto significa que elas de fato estavam substituindo a vida rural
pela urbana. E esta substituição não é apenas
econômica, mas de ordem simbólica. Daí Candido afirmar
que a solução não seria voltar ao tempo anterior, como
defende Nepomuceno com seu repúdio aos elementos urbanos incorporados
à vida no campo. A única alternativa viável para o êxodo
é a criação de condições sociais satisfatórias
para que se viva no interior, e entre tais condições está
a introdução de elementos urbanos, inclusive simbólicos.
Poderíamos afirmar que a concepção apresentada por Nepomuceno
não dá conta do sistema social da música caipira. Por
isto é necessário problematizar conceitos homogêneos que
impossibilitam o debate e, por conseqüência, o surgimento de critérios
mais rigorosos de análise. A noção de estilo de Luhmann,
sustentada no conceito de sistema social de Schmidt, parece ser um bom ponto
de partida para pensarmos a complexidade da música caipira. Primeiramente,
o argumento da existência de um estilo musical caipira não se
pode pautar na suposta genuinidade cultural e musical. Esta idéia nega
um pressuposto básico do conceito de estilo, que é a capacidade
autopoiética de se inovar. Por um lado o estilo conta constantemente
com inovações, e por outro consiste num sistema auto-regulador.
Estilos “iniciam-se de forma simples e modesta e terminam em uma complexidade
perturbadora”. [27] E é importante considerar que este conceito
de estilo não se resume a uma proposta teórica. O samba é
um dos maiores exemplos de que as mudanças pelas quais passa um estilo
são muitas vezes positivas.
Com base no exemplo de análise da literatura como “síndromes
agente-texto-contexto” [28], a música caipira pode ser entendida
como a composição de um sistema social no qual interage uma
série de fatores, entre os quais a música propriamente dita,
a cultura caipira, os intérpretes, os compositores, os críticos,
o público em sua complexa configuração, os meios de comunicação,
enfim, toda a sociedade. Além disto, estes componentes não são
estanques. O público pode ou não compartilhar a cultura rural,
o êxito pode ou não se dar através dos meios de comunicação
em massa, o compositor pode também ser crítico. Assim, as transformações
pelas quais passou a música caipira devem ser avaliadas à luz
das profundas mudanças ocorridas no Brasil a partir do êxodo
rural.
Quando se refere à reorganização social da comunidade
rural por ele analisada, Candido diz que resta ao caipira submeter-se ou posicionar-se
contrário às perspectivas de vida urbana. A conseqüência
da primeira opção é a adaptação do caipira
às necessidades da cidade. O rádio, o telefone, a música
urbana são exemplos destas necessidades assimiladas. Já a adesão
à segunda opção implica uma rejeição da
cidade e um fortalecimento social no próprio grupo rural. Considerada
a noção de sistemas sociais, a definição de Candido
é útil para avaliar também a situação dos
agentes da música caipira na encruzilhada da década de 1950.
Mesmo que de maneira inconsciente, os músicos posicionaram-se a favor
da cidade, e assumiram seus valores, reflexo percebido nas letras das músicas
e nos arranjos, onde tomaram espaço os instrumentos elétricos;
ou rejeitaram a cidade e seus costumes, criticando-a em favor do interior
e da cultura caipira.
Neste sentido, a introdução de instrumentos elétricos,
por exemplo, pode ser vista como um reflexo na música da incorporação
simbólica de elementos urbanos por parte da população
rural que invadia os grandes centros. Além disto, o público
da canção caipira, chamada de sertaneja a partir da década
de 1970, residindo no interior ou nas grandes cidades, conheceu músicos
como Milionário e José Rico ou Chitãozinho e Xororó
da mesma forma que conheceu Roberto Carlos: através dos meios de comunicação.
Isto porque, até a década de 1950, havia poucas condições
de uma dupla sertaneja ser conhecida nacionalmente. As rádios eram
locais, e os músicos cantavam para um público pequeno. A música
sertaneja, já na segunda metade do século XX, teve uma repercussão
nacional através do rádio e da TV, notadamente elementos urbanos
que, conforme Candido, eram desejados pela população rural.
Devemos considerar a mídia não como um fator em oposição,
mas como um elemento que compõe, pelo menos a partir do início
do século XX, o sistema artístico da música caipira,
pois ela se popularizou em grande parte graças à evolução
dos meios de comunicação.
Retomando o que se afirmou ao longo do texto, noções como a
da existência de uma tradição caipira genuína são
questionáveis como base para trabalhos historiográficos. Este
problema metodológico não apenas conduz a construções
homogêneas e a discursos de cunho ufanista, como também prejudica
a própria compreensão da música caipira. É plausível
negar algumas canções que, vendidas atualmente como música
sertaneja, não têm mais nenhum dos elementos reconhecidos do
estilo. Entretanto, é improdutiva a paranóia de repudiar qualquer
inovação que tenha surgido a partir da década de 1960.
Quem considera os habitantes do interior brasileiro como a imagem de um nacionalismo
monolítico acaba opondo-os não apenas ao que não é
nacional, mas também à cidade, organização social
da qual o interiorano cada vez mais depende. Ironicamente, mesmo com o orgulho
nacional por esta cultura “genuinamente brasileira”, o que há
de caipira no campo ainda permanece de cócoras, como diria Monteiro
Lobato. E, por certo, bem mais sério do que conceituar equivocadamente
a música caipira é não aceitar que o habitante do interior
assista a TV ou tenha uma geladeira. Antes de tudo, é necessário
limitar a influência de um discurso que, com o propósito de defender
o caipira, nega o simples direito que qualquer indivíduo tem de escolher
o que é melhor para si.
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 2 ed. São Paulo: Duas Cidades, 1971.
LOBATO, Monteiro. Urupês. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 1966.
LUHMANN, Niklas. “A obra de arte e a auto-reprodução da arte”. In: OLINTO, Heidwn Krieger. Histórias de literatura. São Paulo: Ática, 1996.
NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: 34, 1999.
RUSCH, Gedhard. “Teoria da história, historiografia e diacronologia”. In: OLINTO, Heidwn Krieger. Histórias de literatura. São Paulo: Ática, 1996.
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SCHMIDT, Siegfried J. “Sobre a escrita de histórias da literatura: observações de um ponto de vista estruturalista”. In: OLINTO, Heidwn Krieger. Histórias de literatura. São Paulo: Ática, 1996.
TATIT, Luiz. O século da canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular brasileira: da modinha à canção de protesto. Petrópolis: Vozes, 1974.