A quarta edição da Revista Repom, publicação eletrônica destinada à divulgação de textos voltados ao estudo da música nas suas variadas manifestações e relações com as outras artes, em especial com a literatura, chega ao espaço virtual neste mês de julho de 2007 com contribuições bastante singulares. Como todos os autores são pesquisadores que atuam também como músicos, suas investigações advêm não somente da curiosidade da pesquisa, mas de questões, as mais diferenciadas, colocadas pela própria vivência da música, em seu aspecto estético e profissional.    

Assim, a Repom 4 se desenha a partir das contribuições de músicos pesquisadores que oferecem ao leitor caminhos bastante diversificados do trabalho musical: do universo operístico ao mundo sonoro da música instrumental brasileira.

            No artigo La nueva Trova Cubana, Jeffrey Manoel Pijpers explora a música cubana e suas relações com o mundo político e social de Cuba, analisando o trabalho de uma nova geração de compositores.

            Já em Um passo em falso: a valsa de Casimiro de Abreu, Tiago Hermano Breunig toma a interseção entre música e literatura no conhecido poema de Casimiro de Abreu, abordando de maneira instigante a carpintaria poética do autor, que transpõe para o jogo de pulsações do verso o ritmo da música. Ao transcender a mera análise formal, o artigo problematiza a musicalidade no verso como reveladora da vertigem do sujeito que se dilui e se emudece.

            A revista faz uma incursão no mundo operístico, através do artigo de Beatriz Tironi, Eros e Tanatos na ópera de Turandot de Puccini, que analisa as formas como a sexualidade e a morte são abordadas na obra em questão, e constituem o movimento central do drama. A autora analisa passagens da partitura músico-textual, explora as relações entre música e palavra e desvela as pulsões básicas que conduzem os personagens ao paroxismo característico do gênero.

            Em Composição e improvisação no Calendário do Som, Luiz Gustavo Zago aborda o universo de Hermeto Paschoal investigando o processo de composição do autor. A hipótese básica é a de que as raízes de tal processo se encontram nos recursos normalmente utilizados na improvisação. Assim, o autor analisa aspectos da construção harmônica, melódica e rítmica, mostrando como Hermeto Pascoal canibaliza diversas linguagens da música popular, ao fixar no Calendário do Som o efêmero da improvisação musical.

           Guilherme Gustavo Simões de Castro problematiza a cultura de massa nos anos 90, no artigo O contexto histórico da globalização: comunicação de massa e cultura nos anos 90. O pesquisador mostra como movimentos contraditórios desenham um panorama rico e intrincado, no qual uma forte tendência à massificação e mercantilização da música popular produz a homogeneização, ao mesmo tempo em que a música independente da grande indústria floresce, graças ao desenvolvimento de técnicas de reprodução mais baratas.

            Por fim, na seção Contraponto, Demétrio Panarotto refaz a trajetória de Tom Zé, este que mais que músico, é um performer nascido em Irará na Bahia em 1936, ativo participante das transformações musicais ocorridas na década de 60 quando se dá o encontro com o grupo que viria a configurar o tropicalismo que, mais que um movimento, é, para Tom Zé, um ritmo que continua “pulsando” na cultura brasileira. 

Já na seção Entrevista, Tiago Breunig conversa com o músico Rolando Castello, figura importante na cena musical brasileira enquanto baterista de grupos como Patrulha do Espaço e Made in Brazil, surgidos nos anos 1970. Através de sua trajetória pessoal, Rolando acaba por revelar aspectos muito interessantes da história do rock no Brasil.

Ao leitor o deleite.  

Até o próximo número!

Emílio Gozze Pagotto e Tereza Virginia de Almeida

 


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