ISSN: 1806-9401
arnaldo baptista, uma pessoa só

ARNALDO BAPTISTA, UMA PESSOA SÓ
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CAROLINA VIDAL FERREIRA é Graduanda em Letras - Inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista de Iniciação Científica do CNPq


Introdução

Através de um panorama histórico da música popular brasileira, analiso alguns aspectos da obra do compositor Arnaldo Dias Baptista, músico fundador do conjunto Os Mutantes e a relação deste artista com a Tropicália. Lembro que Arnaldo Baptista é considerado um ícone no Brasil e no mundo. Ainda assim, sua obra é um tanto quanto obscura perto das luzes de holofotes direcionados à Rita Lee e aos dois primeiros discos d'Os Mutantes.

Em maio de 2004, depois de sete anos sem registros do envolvimento de Arnaldo com a música, o artista volta à mídia, com o lançamento de seu novo CD Let it Bed, veiculado pela revista Outracoisa[1].

O novo álbum de Arnaldo Baptista surpreende a crítica e os fãs. Apesar da produção ser baseada em recursos computadorizados que Arnaldo até então desconhecia, as músicas dão continuidade a um trabalho cujas características acompanham a trajetória do autor desde o primeiro álbum d'Os Mutantes.

Um Mutante

Arnaldo Dias Baptista nasceu em 1948 em São Paulo-SP e, em 1968, formou o grupo de rock Os Mutantes, juntamente com Sérgio Dias Baptista (seu irmão) e Rita Lee Jones. Os três tocavam junto desde 1965 no conjunto Six Sided Rockers. No ano seguinte, gravaram o primeiro compacto e mudaram de nome para O'Seis. Mas foi somente na primeira aparição no programa de TV apresentado pelo cantor Ronnie Von que o Brasil iria conhecer Os Mutantes[2].

1967 foi o ano do contato entre Os Mutantes e figuras centrais da efervescência que estava por vir, a Tropicália. Foi no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, que o maestro Rogério Duprat encontrou a solução que Gilberto Gil procurava. A sonoridade desejada para a canção "Domingo no Parque" seria realizada pelos Mutantes, através de algo parecido com o trabalho que George Martin vinha fazendo com os Beatles - elementos de música erudita incorporados ao rock. Os músicos Théo de Barros, Hermeto Pascoal, Heraldo Monte e Airto Moreira estavam encarregados de juntar os elementos da música nordestina. Em entrevista a Ana de Oliveira em 1999, Arnaldo comenta sobre esta experiência:

Ana de Oliveira: Como você, que tocava rock, se sentiu tocando Domingo no Parque, uma cantiga de capoeira?

Arnaldo Baptista: Pode parecer estranho, mas conhecíamos música brasileira, mais samba, uma coisa distante, e não compúnhamos muito. Quando encontramos Gil, fazendo aquelas posições no violão, aí sim demos continuidade à nossa criação através de baianos, astecas, incas, maias... Tínhamos mais a ver com o Nordeste. O paulista era muito europeu. Caetano e Gil nos mostraram um lado mais abrangente, a América do Sul. Assim, aos poucos, a gente pôde começar a compor. Também era estranho tocar com a orquestra de Rogério Duprat.[3]

A harmonia que nasceu do encontro dos Mutantes com os baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso foi estrondosa, chocante e revolucionária. Em 1968, Os Mutantes participaram do LP "manifesto" Tropicália ou Panis et circencis e, no mesmo ano, gravaram o primeiro álbum homônimo da banda pela gravadora Polydor. O álbum Os Mutantes foi dirigido e produzido por Manoel Barenbein e contou com Rogério Duprat nos arranjos, que acompanhou e participou ativamente da trajetória da banda até a saída de Rita Lee em 1972. Duprat foi responsável, ainda, pelos arranjos do álbum solo de Arnaldo Baptista Loki? (1974).


Tropicália

Rogério Duprat, um dos mais renomados arranjadores do Brasil, cuja fase de maior notoriedade foi durante a Tropicália, ao ser entrevistado no vídeo-documentário Maldito Popular Brasileiro de Patrícia Moran (1990), expressa a seguinte opinião sobre Arnaldo Baptista: "Os Mutantes foram a coisa mais importante do tropicalismo. E ninguém conseguiu deixar isso claro. Mas eu sei bem disso e que a cabeça disso tudo, a cabeça dos Mutantes era o Arnaldo Baptista. Insisto e resumo, em poucas palavras: o Arnaldo é responsável por quase tudo que aconteceu de 1967 para frente"[4].

Especialmente durante 1968, Os Mutantes conviveram freqüentemente não só com Rogério Duprat, Gil e Caetano, mas com outros grandes nomes como Gal Costa, Jorge Ben, Tom Zé, Guilherme Araújo, Torquato Neto, todos fundamentais para a articulação da Tropicália - movimento nas artes, com bases nas idéias do Manifesto Antropofágico (1928) de Oswald de Andrade que, através da metáfora da devoração, afirmavam que: "nós, brasileiros, não deveríamos imitar e sim devorar a informação nova, viesse de onde viesse"[5]. Ainda segundo Caetano: "A idéia do canibalismo cultural servia-nos, aos tropicalistas, como uma luva. Estávamos 'comendo' os Beatles e Jimi Hendrix. Nossas argumentações contra a atitude defensiva dos nacionalistas encontravam aqui uma formulação sucinta e exaustiva"[6].

Como explica Caetano Veloso, em Verdade Tropical, a antropofagia de Oswald foi reapropriada por um certo grupo de artistas pertencentes à geração dos anos 60 num contexto único na história da música popular brasileira. Mesmo assim, a idéia continuava atual e possibilitou a abertura de muitos horizontes, tendo rompido preconceitos com gêneros musicais estigmatizados, sem deixar de lado, porém, o deboche e a ironia.

O irreverente Torquato Neto, habilidoso com as palavras, mantinha a coluna Geléia Geral no Jornal do Brasil, também era letrista e escreveu em um irônico manifesto intitulado Tropicalismo para Principiantes: "Tropicalismo. O que é? Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido. Eis o que é."[7]

A troca de experiências entre os tropicalistas e Os Mutantes foi intensa e segundo o próprio Arnaldo, enriquecedora para os dois lados, não só na ordem de criação poético-musical mas também em maneira de agir e encarar o contexto brasileiro da época. Caetano falava: "É essa a juventude que quer dominar o país?" Isso emocionou. Naquela época, me sentia muito inferior a Caetano, em função da cultura dele. Era difícil, porque eu tinha uma lacuna de não entender o que Caetano pensava politicamente falando. Caetano tinha uma lacuna no instrumental, contrabaixo, bateria, rock'n'roll. Então a gente se completou. Eu me sentia atirado numa aventura, eu, palco, Caetano e público[8].

Especialmente, depois do lançamento do LP Tropicália e do happening causado por Caetano Veloso ao apresentar a canção É Proibido Proibir com Os Mutantes no III Festival Internacional da Canção, Arnaldo, Sérgio e Rita estavam completamente envolvidos no universo intenso da música popular brasileira da década de 60. Vaias, ovos e tomates jogados pelo público que repudiava guitarras elétricas (por considerarem um símbolo do imperialismo norte-americano) e defendiam ferozmente a chamada MPB - na época, a música de protesto, representada por Geraldo Vandré e sua canção Pra não dizer que não falei das flores. Do outro lado desse conflito estava a Jovem Guarda, de Roberto e Erasmo Carlos, representantes do público adolescente, considerados alienados na política, interessados na imagem rebelde ao som do iê-iê-iê nos programas de televisão.

Os Mutantes realmente estavam envolvidos com os tropicalistas mas, acima de tudo, eram uma banda de rock, que transitava por tudo o que havia entre os trópicos, através da criatividade de Arnaldo Baptista, o virtuosismo de Sérgio Dias, que tocava qualquer estilo de música na guitarra e a irreverência e o humor de Rita Lee. Arnaldo esclarece sua posição neste assunto:

Ana de Oliveira: Você gostava de jovem guarda?
Arnaldo Baptista: Gostava. Mas a gente ficava meio de fora, não é? Éramos paralelos à Tropicália. Mas a gente nunca fez parte integral nem da Tropicália nem da jovem guarda.
Ana de Oliveira: Vocês transitavam pelas duas vertentes?
Arnaldo Baptista: Tal qual o nome Mutantes, a gente ficava: jovem guarda, Gil, bonita guitarra. Depois, Caetano e berimbau, e lindas roupas e canções e composição.[9]

O Elo perdido

Em 1970, Os Mutantes passaram por um momento de tensão que resultou na saída de Rita Lee da banda e, mais tarde, de Arnaldo Baptista. Rita Lee foi chamada pelo produtor André Midani, da gravadora Philips, para gravar seu primeiro trabalho solo, o LP Build Up (1970). Segundo o produtor Manoel Barenbein, o LP foi o primeiro elemento desagregador d'Os Mutantes. Arnaldo Baptista participou da produção mas, ao invés de Sérgio, quem gravou as guitarras foi Lanny Gordin.

Em 1972, Os Mutantes gravaram o último álbum com Rita Lee, Mutantes e seus cometas no país dos Baurets, e o último com o tom debochado das primeiras composições. Ainda no mesmo ano, Rita Lee foi convidada a gravar seu segundo álbum, Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida. Este disco é considerado como sendo d'Os Mutantes pois, desta vez, todos os integrantes participaram, o que dava ao disco uma sonoridade muito mais parecida com a do conjunto e permitiu que Os Mutantes lançassem dois discos no mesmo ano, uma maneira de desviar a regra do contrato com a Polydor.

Em 1973, Os Mutantes lançaram o álbum O A e o Z, já sem a presença dos arranjos de Rogério Duprat, mergulhando no universo do rock progressivo com letras contendo mensagens messiânicas com explícitas referências às "viagens psicodélicas" provocadas pelo uso do LSD. Foi o último álbum de Arnaldo com Os Mutantes.

A canção "Uma Pessoa Só" foi gravada neste disco e também em Loki? (1974). Exemplifica a temática das letras do conjunto naquele momento, mas ainda preserva um arranjo para piano e voz na parte inicial da música, uma marca recorrente em toda a obra de Arnaldo Baptista.

UMA PESSOA SÓ
(Arnaldo Baptista)

Eu sou
Você é também
E todos juntos somos nós
Estou aqui reunido
Numa pessoa só
E todos juntos somos nós
Uma pessoa
Você também está tocando
Você também está cantando
Estamos numa boa pescando pessoas no mar
Aqui
Numa pessoa só
Eu sou o começo sou o fim
Sou o "A" e o "Z"
Todos juntos reunidos
Numa pessoa só

Após sua saída do grupo, Arnaldo fez sua primeira apresentação como artista solo em São Lourenço (MG) em 1973. Um ano depois, procurou Roberto Menescal, diretor artístico da Philips e o maestro Rogério Duprat para gravar o disco Loki?.

Em 1976, montou a banda na qual cantava e tocava teclado, a Patrulha do Espaço formada por John Flavin (guitarra), Koquinho (baixo), Rolando Castello Jr (bateria). Com esta banda são lançados dois álbuns, Elo Perdido (1977) e Faremos uma noitada excelente (1978). Em 1980, Arnaldo grava mais um trabalho solo, na qual toca todos os instrumentos, o LP Singin' Alone (1982), lançado pelo selo Baratos Afins.

Em 1982, Arnaldo fica em coma por dois meses após uma queda do terceiro andar do setor psiquiátrico do hospital em que estava internado. Através do apoio de amigos e terapia alternativa, Arnaldo se recupera lentamente e sai do hospital no mesmo ano[10]. Somente em 1987, o álbum Disco Voador é lançado, trazendo o músico de volta à atividade.

Sete anos depois, um novo trabalho surpreende o público e os fãs de Arnaldo Baptista, o CD Let it Bed, lançado em 2004.

Let it Bed

As letras deste novo trabalho de Arnaldo Baptista são subjetivas e psicológicas, mas sobretudo descontraídas, ora irônicas, ora provocantes ou desafiadoras, aliadas à musica do multi-instrumentista que é Arnaldo, repletas de psicodelia, harmonias intensas, melodias penetrantes, do brasileiro, roqueiro que conhece sem medo o universo da música erudita[11]. e dos elementos mais salientes na vasta obra de Arnaldo Baptista, e que ainda persistem em Let it Bed.

O álbum Let it Bed foi um projeto que teve início ainda em 1990, mas foi impulsionado pela idéia de John Ulhoa (produtor do disco e integrante da banda Pato Fu) de apresentar a Arnaldo as novas tecnologias computadorizadas para home studios. Arnaldo foi receptivo, John instalou um computador no sítio de Arnaldo em Juiz de Fora - MG, e as gravações do novo álbum foram iniciadas.

A obra de Arnaldo, assim como um ser mutante, recebeu as novas tecnologias de efeitos sonoros e baterias eletrônicas e, ainda assim, os mesmos elementos previamente apontados como salientes, realmente sobrepõem-se a qualquer tipo de influência externa. Podemos então seguramente chamar Let it Bed de o novo álbum de Arnaldo Baptista.

Ouvir Arnaldo Baptista hoje, depois de tanto tempo sem gravar, é também constatar a falta que ele fez para a história da nossa música popular. Uma ausência que a força de suas novas e emocionantes composições redime no tempo e no espaço, como se ele nunca tivesse deixado de estar presente entre nós. Arnaldo dos Mutantes, de Loki? e de Let it bed são uma pessoa só; é todos nós que, como ele, não perdemos a capacidade de nos emocionar com arte independente, verdadeira e libertária[12].

Compartilhando do mesmo louvor do comentário acima, escrito por Fernando Rosa, Anderson Nascimento, outro crítico musical, reflete sobre o poética e a sonoridade do álbum: "O álbum tem sim o nonsense da época dos Mutantes, tem sim um pouco da dor que o Arnaldo carregou em seus dois primeiros álbuns solo e traz, além disso tudo, um artista que olha para frente sem se esquecer do passado"[13].


"Louvado seja Deus, que nos deu rock'n'roll"

Esta frase faz parte da música LSD de Let it Bed (2004) e simboliza, além da alusão ao ácido lisérgico, a fidelidade que as composições de Arnaldo, em qualquer época, têm com o rock'n'roll. Além de quando estava com Os Mutantes, a época mais evidente dessa relação foi quando fazia parte da banda Patrulha do Espaço com a qual gravou os álbuns Elo Perdido (1977) e Faremos uma noitada excelente (1978). Enquanto Sérgio Dias se empenhava para continuar Os Mutantes após a saída de Rita e Arnaldo, fazendo uma proposta claramente aos moldes de bandas inglesas de rock progressivo, cuja influência maior era o conjunto Yes, Arnaldo seguiu mais uma vez seu caminho próprio, procurando manter uma sonoridade única e original.

LSD
(Arnaldo Baptista)

Louvado seja Deus
Que nos deu Rock'n'Roll
Clonando Cristo
Através do sangue do Santo Sudário
Ciclone
Louvado seja Deus
Que nos deu Rock'n'Roll
E os níveis de expansão?
Louvado seja o Rock'n' Roll

Nesta canção, além do louvor ao rock'n'roll, estão presentes ainda elementos do típico deboche dos Mutantes. A segunda frase "Que nos deu Rock'n'Roll" se faz contestadora devido a atmosfera da música, produzida por um órgão com timbre usado em igrejas e uma voz de padre rezando missa, simulada por Arnaldo.

Outra canção que exalta o rock'n'roll é "Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenho o Rock'n'Roll" registrada no disco Mutantes e seus cometas no país dos Baurets (1973):

POSSO PERDER MINHA MULHER, MINHA MÃE,
DESDE QUE EU TENHA O ROCK AND ROLL
(Arnaldo Baptista / Rita Lee / Arnolpho Lima Filho)

O meu cigarro apagou
Eu vou dançar o rock'n'roll
O meu dinheiro acabou
Eu me liguei no rock'n'roll
O meu cigarro apagou
O meu dinheiro acabou
E hoje eu me liguei em dançar o rock'n'roll
O meu cigarro apagou
O meu dinheiro acabou
Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock'n'roll
Posso perder minha mulher
Posso perder a minha irmã
Posso perder a minha mãe
Posso perder até minha vó
Pois hoje eu tenho o Elvis Presley
E eu não perco a Celly
Mas eu tenho o Little Richard
Uh, Demétrius
Domingo de manhã saí pra caçar rã
Foi quando à minha frente apareceu a tua irmã
Que sarro
Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock'n'roll

Nesta canção, através de efeitos sonoros como aplausos e assobios, Os Mutantes simulam um show de algum "astro" do rock, interpretado por Arnaldo. Muitos gritos histéricos femininos são ouvidos ao fundo enquanto a banda faz solos de teclado e guitarra. Na letra, Os Mutantes fazem uma homenagem aos pioneiros do rock no Brasil, ainda da década de 50 como Celly Campelo e Demétrius.

Outra temática abordada nas composições de Arnaldo Baptista é a loucura, como uma forma de chocar uma geração que, desde 1960, ainda persiste cheias de moralismo. Ainda no álbum Mutantes e seus cometas no país dos Baurets está a famosa "Balada do Louco":


BALADA DO LOUCO
(Arnaldo Baptista / Rita Lee)

Dizem que sou louco/ Por pensar assim
Se eu sou muito louco/ Por eu ser feliz
Mais louco é quem me diz
E não é feliz
Não é feliz
Se eles são bonitos/ Sou Alan Delon
Se eles são famosos/ Sou Napoleão
Mais louco é quem me diz
E não é feliz
Não é feliz
Eu juro que é melhor / Não ser o normal
Se eu posso pensar/ Que Deus sou eu
Se eles têm três carros/ Eu posso voar
Se eles rezam muito/ Eu já estou no céu
Mais louco é quem me diz
E não é feliz
Não é feliz
Eu juro que é melhor/ Não ser o normal
Se eu posso pensar/ Que Deus sou eu
Sim, sou muito louco/ Não vou me curar
Já não sou o único/ Que encontrou a paz
Mais louco é quem me diz
E não é Feliz
Eu sou Feliz

Arnaldo gravou esta música nos LPs Singin' Alone (1982) e uma versão em inglês no Disco Voador (1987) intitulada "Crazy - One's Ballad". No CD Let it Bed, Arnaldo retoma esta temática resgatando uma canção de 1941 que fez parte de uma trilha sonora do desenho Picapau. Assim como "Balada do Louco" a música inicia apenas voz e piano, dando a sensação de solitude do eu lírico que se diz louco:

Woody Woodpecker - Everybody thinks I'm crazy
(Darrel Calker - trilha de um filme do Picapau de 1941)

Everybody thinks I'm crazy
Yeah! That's me that's me that's me
A couple of holes in everything
"na-fa-got!" "I way ah-na-ha-ha!"
Crazy is me, and what more can I do?
Somebody; too!

Conclusão

A partir do balanço de todos esses fatos, a participação dos Mutantes na Tropicália é um caso especial na história da música popular brasileira. As propostas da Tropicália e do conjunto Os Mutantes têm muitos pontos convergentes como, por exemplo, promover uma quebra com padrões e tradições morais na forma de agir e se vestir e no âmbito musical ultrapassar as barreiras de gêneros, juntando o que há de mais pop no momento com gêneros estigmatizados, considerados cafonas, como muitos ritmos latinos.

Aprofundando mais, é possível discutir algumas opiniões sobre o centro dos mutantes estar em Rita Lee, a partir da história de cada membro do grupo, Arnaldo Baptista, mesmo atravessando momentos perturbados e graves crises de saúde, manteve uma proposta em sua arte que não teve tantas oscilações como a obra de Rita Lee que seguiu tendências comerciais na década de 80 e Sérgio Dias que embarcou no rock progressivo. Ainda assim, é inegável a importância do trio unido que contribuiu para o turbilhão musical e político que o país atravessou durante a década de 60.



Bibliografia:

CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

_________. Tropicália: a história de uma revolução musical. São Paulo: Ed. 34, 1997.

MAIA, Sonia. Release Oficial. Disponível em: http://www.arnaldobaptista.mus.br. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

NASCIMENTO, Anderson. Resenhas de discos. Disponível em: http://www.revolvermusic.com.br/discos.html. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

OLIVEIRA, Ana de. Tropicália. Disponível em http://www.uol.com.br/tropicalia. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

Revista Outracoisa Ano II - nº 6/04 Rio de Janeiro: Ed: L&C, 2004. (pp. 3-9)

Coleção História do Rock Brasileiro, Anos 50 e 60 - Superinteressante Vol.1 - São Paulo: Ed: Abril, 2004. (pp.53-75)

VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.


Discografia:

O'Seis - O'Seis. (1966) Continental EP

Os Mutantes - Mutantes. (1968) Polydor LP

Vários - Tropicália ou panis et circencis. (1968) Philips LP

Os Mutantes - Mutantes. (1969) Polydor LP

Os Mutantes - A Divina comédia ou ando meio desligado. (1970) Polydor LP

Os Mutantes - Tecnicolor. gravado em 1970 (2000) Universal Music, CD

Os Mutantes - Jardim Elétrico. (1971) Polydor LP

Os Mutantes - Mutantes e seus cometas no país dos Baurets. (1972) Polydor LP

Rita Lee - Build Up. (1970) Polydor LP

Rita Lee - Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida. (1972) Polydor LP

Os Mutantes - O A e o Z. gravado em 1973 (1992) Philips CD

Arnaldo Baptista - Loki? (1974) Polygram LP

Arnaldo Baptista - Singin' Alone. (1982) Baratos Afins LP

Arnaldo Baptista - Disco Voador. (1987) Baratos Afins LP

Patrulha do Espaço - Faremos uma noitada excelente. gravado em 1978 (1987) Vinil Urbano LP

Patrulha do Espaço - Elo Perdido. gravado em 1977 (1988) Vinil Urbano LP

Arnaldo Baptista - Let it Bed. (2004) L&C Editora CD



 

 

 

 

[1] A revista Outracoisa tem como editor o músico Lobão que junto com John Ulhoa impulsionaram a realização do álbum Let it Bed.

 

 

 

 

 

[2] Segundo site oficial de Arnaldo Baptista. Disponível em: http://www.arnaldobaptsta.mus.br. Acesso em: 08 de março de 2005.

 

 

 

 

 

 

 

[3] OLIVEIRA, Ana de. Tropicália - Entrevista: Arnaldo Baptista (Mutantes) São Paulo, 21 de janeiro de 1999. Disponível em: http://www.uol.com.br/tropicalia. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

 

 

 

 

 

 

 

[4] In: MAIA, Sonia. Release Oficial. Disponível em: http://www.arnaldobaptista.mus.br. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

 

[5] VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. p. 247.


[6] Idem, p. 247

 

 

 

 

 

[7] CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. p. 121.

 

 

 

[8] OLIVEIRA, Ana de. Tropicália - Entrevista: Arnaldo Baptista (Mutantes) São Paulo, 21 de janeiro de 1999. Disponível em: http://www.uol.com.br/tropicalia. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[9] Idem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[10] Sobre este episódio ver: CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. pp. 15-22.

 

 

 

[11] Graças à pianista, concertista Clarisse Leite Dias Baptista, mãe de Sérgio e Arnaldo. Segundo Calado, "A primeira mulher no país a compor um concerto para piano e orquestra".

 

 

 

 

 

 

 

[12] ROSA, Fernando. Revista Outracoisa Ano II - nº 6/04 Rio de Janeiro: Ed: L&C, 2004. p. 3.

 

[13] NASCIMENTO, Anderson. Resenhas de discos. Disponível em: http://www.revolvermusic.com.br/discos.html. Acesso em: 28 de novembro de 2004.

 

 

 

 

 

 

 

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