A MÚSICA
ENQUANTO ESTRATÉGIA NARRATIVA EM BRÁS CUBAS, DE JÚLIO
BRESSANE
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LÚCIA ALMEIDA é
Doutoranda em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa
Catarina
BRÁS CUBAS-MÚSICA
O trânsito
da literatura para as películas é questão primordial
no cinema de Júlio Bressane, que, no ensaio Brás Cubas[8],
atribui à "tradução criativa" uma posição
central no trabalho com o romance de Machado. Com a adoção de
tal estratégia para promover a travessia das "memórias"
do livro para o filme, o autor põe no foco principal a criatividade
e inclui no itinerário de aproximação ao seu filme os
estudos desenvolvidos por Haroldo de Campos sobre a "tradução
criativa" ou "transcriação". O cineasta acessa
a teoria haroldiana concentrada intrasemioticamente no campo poético,
para realizar uma operação de tradução criativa
intersemiótica, ou seja, entre linguagens diferentes, da literária
para a cinematográfica. Para ele, a tradução no cinema
inclui "luz-movimento-angulação-montagem", o que implica
descobrir "uma tradição de clichês cinematográficos"
que recriados possam dar "uma idéia do formalismo do texto, do
objeto, do espírito, do humor, do mau humor, do original"[9].
Portanto, a questão não é o abandono da noção
de equivalência - já que "transcriar" também
implica uma relação de reciprocidade do texto base com a sua
tradução - e sim, o enfraquecimento da idéia de fidelidade
literal.
Numa postura bastante alinhada com a de Gumbrecht, Bressane não realiza
um trabalho de desvendamento de um sentido ainda não acessado em Memórias
póstumas de Brás Cubas, também não realiza
uma transplantação do texto machadiano para as telas. O cineasta
parece, isto sim, "buscar, nos vários aspectos do trabalho de
composição, analogias formais entre cinema e literatura, de
modo a traduzir os métodos de Machado de Assis, e não o conteúdo
da história"[10]. Brás Cubas não cabe na
condição de decalque em relação ao livro, mas
mantém com este um diálogo constante e visceral, fazendo emergir
do interior do romance diferentes facetas relacionadas a outras artes. Sobre
isso, o diretor afirma o seguinte:
O filme se chama Brás Cubas. Não é um livro. É um filme. Desmembrei o livro e descobri nele o Brás Cubas-livro, o Brás Cubas-música, o Brás Cubas-pintura. Dessa dissecação nasceu o filme, fundamentalmente porque senti na prosa do escritor conceitos de montagem cinematográfica. Isso é fantástico. O livro é de 1880, antes do cinema.[11]
Entre as sofisticadas estratégias narrativas do cineasta, que incluem
a quase supressão da voz do narrador, a preservação de
pouquíssimos diálogos e uma fotografia bastante elaborada, a
que me interessa aqui se liga ao "Brás Cubas-música",
traduzido no filme pela inserção de obras musicais que pertencem
a diferentes gêneros, tais como o samba, o baião, o tango, a
música clássica instrumental e a ópera. Esse "Brás
Cubas-música", descoberto por Bressane ao desmontar a malha formadora
de Memórias, talvez seja mais bem compreendido se consideradas
as reflexões de Roberto Schwarz em Um mestre na periferia do capitalismo,
de 1990. No citado livro, o autor corrobora a percepção do cineasta
quando chama a atenção para "a profusão e natureza
crucial das relações implicadas no andamento da prosa machadiana,
e o extraordinário contraste de vozes orquestradas em sua música,
verdadeiramente complexa"[12]. Schwarz faz uma ligação
da sinuosidade da composição do livro, iniciado pelo dia da
morte e não pelo do nascimento do narrador e constituído por
interrupções constantes no fluxo do romance entre Brás
Cubas e Virgília, com as variações implicadas nas composições
musicais: "No plano da composição, por assim dizer musicalmente,
o emaranhado de marchas e contramarchas em tempo, espaço e assuntos
- a barragem digressiva inicial - será seguido de uma linha narrativa
delgada ainda que sinuosa e interrompida"[13]. Ademais, o crítico
enxerga traços de um "Brás Cubas-música", inclusive,
no célebre capítulo de encerramento do livro, pois, para ele,
haveria musicalidade na construção de Machado de Assis dos argumentos
que formam o balanço da vida do narrador em "Das negativas":
Sarcasticamente musical, a condução do argumento alterna os passivos com ativos que, salvo na perspectiva egoísta e classista da personagem, não contrabalançam os primeiros, pois são outras tantas dívidas, tornando ainda mais pronunciado o desequilíbrio das contas. A tensão resolve-se na célebre frase final, por um superavit que é o déficit mais irrecuperável, ou por um déficit que é o único saldo que conta: "- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".[14]
No filme, o "Brás Cubas-música" se materializa como
voz narrativa, auxilia no delineamento dos personagens, participa na determinação
dos humores da história, fornece indícios para a localização
dos acontecimentos no tempo e no espaço, dá contorno aos ápices
e é um dos marcadores do andamento da trama. São raros os momentos
em que a música não tenha participação capital
na película, substituindo, inclusive, em algumas cenas, as falas dos
personagens, que executam movimentos labiais sem que o espectador possa ouvir
o que estão dizendo.
Com o objetivo de compreender o papel da música na construção
da narrativa em Brás Cubas, adoto como estratégia a configuração
de um recorte bastante conciso, pois focalizo, especificamente, a participação
na película de duas canções pertencentes a gêneros
distintos da música brasileira: o samba e o baião. Assim, daqui
em diante, observo, primeiramente, a utilização por parte de
Júlio Bressane, da canção "Fiz um samba", de
José Borba, e, em um segundo momento, discorro sobre a inserção
no filme do baião "Qui nem jiló", de Luiz Gonzaga
e Humberto Teixeira. Vale acrescentar que, em certa medida, a participação
das referidas canções brasileiras ilustra o papel geral que
a música, sob a configuração de gêneros diferenciados,
tem em Brás Cubas.
A "TRANSCRIAÇÃO" DE MEMÓRIAS: DO SILÊNCIO AO SAMBA-CANÇÃO
Já na
primeira cena, surge "Fiz um samba", de José Borba, composição
de 1940 que participa da recriação da dedicatória, da
nota de Brás Cubas "Ao leitor" e de parte do primeiro capítulo
do romance. Para entender o papel desta canção, vale abordar
as reflexões de José Miguel Wisnik em O Som e o sentido,
apresentado pelo autor como um livro que "fala do uso humano do som e
da história desse uso", como um livro "sobre vozes, silêncios,
barulhos, acordes, tocatas e fugas, em diferentes sociedades e tempos"[15].
Embora essa história não contemple a música popular brasileira,
ainda assim é de extremo interesse, pois, no primeiro capítulo
"Som, ruído e silêncio", o autor disseca a estrutura
sonora, aponta as similitudes entre música e corpo, tais como o pulso
musical e o pulso sanguíneo, e lembra que já no útero
o feto é submetido às batidas do coração da mãe,
som que coloca, desde o início, o ritmo como um elemento básico
da percepção humana. Em oposição às sonoridades
periódicas, figura a desordem e a interferência do ruído,
"aquele som que desorganiza outro, sinal que bloqueia o canal, ou desmancha
a mensagem, ou desloca o código"[16], como, por exemplo, a microfonia,
que, ademais, fere os ouvidos. Além da física e metafísica
do som, e da antropologia do ruído, o capítulo trata também
do outro extremo, o silêncio, que pode até ser ruidoso na natureza,
como no caso das ondas do mar, "freqüência difusa de todas
as freqüências". Wisnik lembra que do mundo fazem parte o
barulho e o silêncio, articulados pela música, que extrai sonoridade
do ruído.
Essas reflexões se relacionam intimamente com a estratégia de
adaptação utilizada na abertura de Brás Cubas,
pois o diretor e roteirista articula três sonoridades: o silêncio,
o ruído e a música. Além do início do primeiro
capítulo, o plano que abre o filme transcria "memórias
póstumas" (idéia ausente no título da película),
a nota assinada por Brás Cubas e a dedicatória que dá
início ao livro, na qual o narrador indica a sua condição
de defunto: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver
dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas".
Precedida por uma abertura absolutamente silenciosa, que contém apenas
o crédito "Júlio Bressane apresenta - Brás Cubas",
a cena, de aproximadamente dois minutos e meio, sem cortes, tem início
com a focalização do rosto de um esqueleto humano, que, com
a ampliação do foco, percebemos estar deitado sobre uma superfície
em meio à névoa. Ao seu lado, um homem segura o fio de um microfone,
faz com que o artefato penda e deslize sobre os ossos, tocando-os. Primeiro,
o microfone é introduzido em uma das cavidades oculares, nesse momento,
uma voz em "off" pronuncia, em tom cavernoso, a palavra "necrofone";
em seguida, o aparelho é encaminhado na direção dos pés
do esqueleto e, ao tocar os ossos, provoca ruídos; o "necrofone"
é deslocado e penetra novamente em uma das cavidades oculares. Então,
através de um movimento de câmera, o plano é invertido,
o esqueleto passa a ocupar a parte superior da tela, enquanto o técnico
com o "falo sonoro"[17] fica posicionado na inferior. Após
a inversão da imagem, toda a movimentação é repetida,
só que dessa vez os ruídos do atrito com os ossos são
suplantados pelos versos da canção "Fiz um samba",
interpretada pelo "rei da voz" Francisco Alves, que canta
Dos casebres da favela
Do silêncio da capela
Onde eu rezo com fervor
Da luz clara do luar
Que ilumina o céu e o mar
E as campinas sempre em flor
Eu fiz um samba para o meu amor (2x)
Terminada a movimentação do "necrofone", tem inicio
a adaptação do primeiro capítulo do livro ao som da segunda
parte do samba. Há um corte para a imagem de um formigueiro, sucedida
pela focalização de um jardim austero e depois do mar com montanhas
ao fundo. Tudo isso ao som dos seguintes versos:
Da noite escura sem lua
Da chuva que cai na rua
Aumentando a minha dor
Do pranto dos olhos meus
Da fé que eu tenho em Deus
Nosso pai nosso senhor
Eu fiz um samba para o meu amor (2x)
As "memórias póstumas", suprimidas no título
do filme, vêm à tona através dos vários artifícios
citados, sem que nada seja verbalizado, além dos versos da canção
e do neologismo "necrofone", termo que nomeia o artefato que capta
a voz do além-túmulo, conectando metaforicamente dois mundos,
o anterior e o posterior à morte de Brás Cubas, ocorrida, como
informa o primeiro capítulo do livro, em um bairro do Rio de Janeiro,
"às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto
de 1869". Bressane encaminha o espectador ao tempo das "memórias"
gradativamente: a primeira etapa do trajeto se dá através da
canção que, aos poucos, auxilia no direcionamento dos olhares
para o Rio de Janeiro do passado; já a segunda etapa tem lugar quando
surgem na tela as imagens referentes ao dia da morte de Brás Cubas,
pois estas completam a volta no tempo, possibilitando ao espectador situar
as "memórias póstumas" no contexto do século
XIX.
No plano inicial do filme, Júlio Bressane opera com o silêncio,
a imagem, a palavra inventada, a palavra cantada e também com o ruído.
Segundo José Miguel Wisnik, a "definição de ruído
como desordenação interferente ganha um caráter
mais complexo em se tratando de arte, em que se torna um elemento virtualmente
criativo, desorganizador de mensagens/códigos cristalizados e provocador
de novas linguagens"[18]. É dentro de um contexto de criatividade
que o ruído é utilizado de duas formas diferentes na cena que
abre o filme: na primeira, aparece como uma interferência, como um desorganizador
da perenidade do silêncio, pois, em meio à névoa, o "necrofone"
procura por vibrações acústicas, por uma voz do além-túmulo,
pela voz de Brás Cubas, mas, inicialmente, tudo o que transmite é
o ruído provocado pelo seu próprio contato com a ossada do finado;
na segunda, com a inversão do plano, o ruído aparece como um
dos elementos na composição da voz de narração
de Brás Cubas, pois, com as posições trocadas, a iniciativa
passa do artefato sonoro para o defunto, que se faz ouvir através da
canção "Fiz um samba", numa gravação
carregada de ruídos típicos dos discos antigos. Estes fazem
a bela voz de Francisco Alves parecer ainda mais distante no tempo, auxiliando
na construção do contexto de antiguidade das memórias
de Brás Cubas. "Morto que escreve. Escreve e canta. Canta um samba."[19].
Até a entrada da canção, o espectador tem basicamente
três informações: existe um morto; ele se chama Brás
Cubas e há entre o seu mundo além-túmulo e o mundo dos
vivos um canal de comunicação, um meio de captação
da sua voz - o necrofone. Pairam as seguintes perguntas: o que teria esse
morto a dizer? quando ele viveu? onde se deu a sua história? Com a
inserção de "Fiz um samba", a névoa começa
a se dissipar, as imagens ficam mais claras, somando-se aos versos. A música
dá pistas em direção a algumas respostas para os questionamentos
anteriores, pois, por várias razões, auxilia no encaminhamento
do olhar do espectador em direção ao passado, participa da localização
da história no espaço e constitui as primeiras palavras do defunto.
"Fiz um samba" traz para o filme o peso da tradição
do samba, gênero musical nascido, segundo Ricardo Cravo Albin, em meio
à população mais pobre do Rio de Janeiro. Enquanto a
classe alta se divertia nos carnavais à moda européia, a parcela
mais necessitada dos habitantes da cidade, "especialmente os que descendiam
dos guetos da escravidão e que habitavam os cortiços negros
paupérrimos da Cidade Nova e da Central do Brasil (...), continuava
a exercitar-se nos seus batuques e nas rodas de pernada e de capoeira"[20].
Portanto, em um contexto de urbanidade, o samba nasce da percussão
e das palmas que atravessaram o século XIX sonorizando as batucadas
produzidas pelos negros pobres. José Ramos Tinhorão acrescenta
que o samba surgiu por volta de 1870 como som dos animados blocos e cordões
carnavalescos do Rio[21]. Com o primeiro sucesso, "Pelo Telefone"
(1917), o gênero desponta na cidade, e, nas décadas de 20 e 30,
torna-se um fenômeno de "expressão de grupos sociais marginalizados
que tomavam o espaço da cidade na festa carnavalesca, e que marcavam
a sua diferença e o seu desejo de pertinência através
da música"[22].
Embora "Fiz um samba" se filie a toda essa tradição,
fazendo com que o espectador do filme, também por isso, se transporte
para o pretérito, é preciso abordar as especificidades dessa
peça musical, pois, ao longo do tempo, os artistas criaram dentro do
samba sonoridades variadas, que tiveram como decorrência uma diversidade
de estilos, tais como o samba de breque, o samba-choro, o samba-enredo, o
samba-exaltação, o samba de partido alto e o samba-canção.
É sob esta última tipologia que "Fiz um samba" aparece
na base de dados da FUNARTE. Eis os registros da gravação:
Autor: José Borba
Título: FIZ UM SAMBA
Gênero: samba-canção
Intérprete: FRANCISCO ALVES
Gravadora: COLUMBIA
Número: 55.246-A
Matriz: 326
Data gravação: 22.10.1940
Data lançamento: novembro/1940
No final da década de 20 ascende o samba-canção. As músicas com essa sonoridade ficaram conhecidas na época como sambas de meio de ano, por serem os discos do gênero lançados sempre fora do período carnavalesco, tomado pelo samba de ritmo mais acelerado. Segundo José Ramos Tinhorão, o samba-canção foi um empreendimento de compositores semi-eruditos, tais como Henrique Vogeler, Heckel Tavares, Joubert de Carvalho, e de músicos capacitados como Sinhô, que buscaram enfatizar nesses sambas mais o aspecto melódico que o sincopado. O autor acrescenta que esses músicos foram os
pioneiros da tentativa de adaptação do ritmo do samba (com a modificação do seu andamento) a fim de obter uma forma mais nobre de composição, ou seja, um tipo de samba que permitisse maior riqueza orquestral e um toque de romantismo capaz de servir às letras de fundo nostálgico e sentimental, características da música da classe média brasileira, desde o tempo da modinha imperial[23].
Com "Fiz um samba", as memórias de Brás Cubas são
situadas no contexto da cidade do Rio de Janeiro. O espectador é encaminhado
em direção ao Rio antigo, através dos ruídos da
gravação e da melodia sentimental do samba-canção.
O diretor empresta ao falecido o canto carregado de antiguidade de Francisco
Alves (o rei da voz), que, mesmo na gravação datada de 1940,
ainda soa como o cantor que aprendeu o ofício e deu início à
carreira antes do surgimento do microfone e da gravação elétrica
de discos. Em suma, seja pelo estilo de cantar, seja pela potência de
sua voz, em "Fiz um samba", o registro vocal de Francisco Alves
soa de forma extremamente longínqua aos nossos ouvidos pós-bossa
nova[24].
Resta ainda uma importante pergunta: com a utilização das imagens
e do samba como poderia o diretor, sem repetir o texto machadiano, recriar
o humor do autor presente já nos passos iniciais de Memórias
póstumas de Brás Cubas? É sobre este ponto que a
letra de "Fiz um samba" exerce maior poder. Nos primeiros minutos
do filme, o cineasta está concentrado na abertura do romance, composta
por uma dedicatória aos vermes, na qual o narrador se coloca enquanto
defunto; por uma nota "ao leitor", em que Brás Cubas pensa
sobre as suas influências no processo de reconstituição
de suas memórias; e pelo capítulo I, cujas primeiras informações
dão conta de que tudo começa pelo falecimento do narrador.
No livro, o morto narra em primeira pessoa a sua história; no filme,
inicialmente, canta em primeira pessoa os versos de José Borba. A primeira
metade da letra entra no filme quando da inversão do plano, que coloca
o morto em posição de iniciativa. Este, emoldurado pelo registro
vocal do "rei da voz", canta uma letra na qual o eu lírico[25]
repete o seguinte refrão: "Eu fiz um samba para o meu amor".
A repetição deste verso, construído com um verbo no passado,
reforça ainda mais o caráter de reminiscência da história
de Brás Cubas; reforça também a filiação
à tradição do samba, que, além de constituir o
gênero da canção, está inserido na letra. Os seis
versos que precedem o refrão na primeira parte se referem à
situação ou ao lugar de onde fala eu lírico: "Dos
casebres da favela/ Do silêncio da capela/ Onde eu rezo com fervor/
Da luz clara do luar/ Que ilumina o céu e o mar/ E as campinas sempre
em flor". Essas palavras encaminham o espectador em direção
à sentimentalidade de um "eu" que se insere em um contexto
de pobreza e religiosidade, algo bastante irônico quando pensamos no
personagem machadiano Brás Cubas, filho de uma família de posses
que explora o trabalho escravo. Contudo, se o espectador não for detentor
dessas informações sobre o livro, até aqui não
perceberá esse descompasso entre o contexto inserido na canção
e o contexto em que se passam as memórias do "defunto autor".
Júlio Bressane, nesse momento inicial, com sua estratégia de
uso de música e imagens, recria a abertura do livro, em cujo primeiro
parágrafo o narrador brinca com as palavras e joga com as noções
de vida e morte.
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco[26].
Machado de Assis constrói, no trecho em questão, uma narrativa
irônica pautada em idéias opostas, tais como princípio/fim,
nascimento/morte, autor defunto/defunto autor, campa/berço e intróito/cabo.
Roberto Schwarz, que se concentra em vários aspectos dessa passagem,
percebe em sua construção musicalidade e humor:
a música do primeiro parágrafo é sintática, e seu humor está na tensão entre o desenho gramatical elegante e o absurdo do que é dito. O leitor interessado consinta em reler a passagem, atentando no movimento. O ritmo é estritamente binário, marcado por alternativas, paralelismos, antíteses, simetrias, disparidades. Assim de início o narrador hesita entre dois modos de abrir as suas memórias, se pelo princípio, se pelo fim (...)[27].
O autor de Um mestre na periferia do capitalismo chama a atenção
para o ritmo binário no trecho do livro de Machado de Assis, o que
possibilita uma analogia com o samba, que tem, freqüentemente, este mesmo
tipo de compasso[28]. Ademais, as idéias opostas levantadas por Schwarz
no primeiro parágrafo do capítulo I são recriadas no
filme com a entrada da segunda metade da letra, que persiste no tom religioso
e sentimental, porém a posição do sujeito é desenhada
em alguns aspectos de forma antitética em relação à
primeira parte, que trazia a luminosidade da "luz clara do luar",
que desaparece na segunda parte, tomada pela "escuridão"
e pela "chuva": "Da noite escura sem lua/ Da chuva que cai
na rua/ Aumentando a minha dor/ Do pranto dos olhos meus/ Da fé que
eu tenho em Deus/ Nosso pai nosso senhor". O tom irônico da abertura
de Memórias póstumas de Brás Cubas se constrói
aos poucos na película, com a introdução das imagens
que não se encaixam no contexto sugerido pela segunda metade da letra
da canção. Com a realização do primeiro corte,
mesmo o espectador que não é conhecedor do livro passa a ter
acesso à ironia, pois surge na tela, primeiro, a imagem de um formigueiro
em movimentada atividade, sucedida pela focalização de um jardim
elegante e depois do mar com montanhas ao fundo. O formigueiro provoca o primeiro
choque, já que a imagem transmite uma voracidade oposta ao lirismo
do samba; a seguir, enquanto a letra trata da "noite escura", da
"chuva" e da "dor", as imagens são de um sofisticado
jardim e do mar iluminado do Rio de Janeiro. Então, o samba cessa,
mas continua "dos casebres da favela" ecoando ironicamente na cena
seguinte, na qual a face "elegante" da sociedade do Rio de Janeiro,
em uma residência finamente decorada, chora a morte de Brás Cubas.
Nesse momento, o espectador, que foi gradativamente encaminhado ao Rio antigo
pela sonoridade da canção e pela visão do mar, pode,
através das imagens detalhadas da residência de Brás Cubas
e daqueles que choram sua morte, localizar-se no tempo com maior precisão,
completando o trajeto até o contexto do século XIX, no qual
se situam as memórias do narrador.
BRÁS CUBAS E VIRGÍLIA: O BAIÃO COMO PONTO DE ENCONTRO
No minúsculo
capítulo CXXX de Memórias póstumas de Brás
Cubas, já próximo do fim do romance, Machado de Assis constrói
um contexto ficcional que contribui para o delineamento dos contornos da superficialidade
das relações de Brás Cubas. O narrador, depois de algum
tempo, reencontra o seu amor mais duradouro, Virgília, mulher com quem
viveu uma longa relação marcada por encontros fortuitos, que
ocorriam, primeiro, na própria residência que esta dividia com
seu marido Lobo Neves e, depois, em uma casinha alugada na Gamboa. Assim,
Virgília mantinha o estatuto de senhora casada e, ao mesmo tempo, vivia
com Brás um amor que foi "como as plantas que nascem e crescem
depressa", embora o narrador acrescente não saber ao certo "os
dias que durou esse crescimento"[29]. Pois bem, o capítulo CXXX
é constituído por uma narrativa que se divide, basicamente,
em três estágios: no primeiro, Brás Cubas descreve a situação
em que ocorreu o encontro e avalia o que vê; em seguida, o narrador
comenta o tipo de conversa mantida pelos dois; e, por fim, há a separação.
O encontro ocorre em um baile no ano de 1855. Em tal ocasião Virgília
veste um "soberbo vestido de gorgorão azul", exibindo, sob
as luzes, a sinuosidade dos seus ombros aos olhos de seu ex-amante, que faz
a seguinte avaliação: "Não era a frescura da primeira
idade; ao contrário; mas ainda estava formosa, de uma formosura outoniça,
realçada pela noite". Sobre a longa conversa que tiveram, Brás
acrescenta que nada do que foi dito fez alusão ao passado, pois "subentendia-se
tudo. Um dito remoto, vago, ou então um olhar, e mais nada". Ao
ver Virgília descer as escadas, quando da sua retirada, o narrador
murmura "magnífica", acrescentando, em um misto de crueldade
e nostalgia que esta palavra é, para ele, "profundamente retrospectiva".
Já próximo do fim do filme, Júlio Bressane opta por uma
adaptação radical do capítulo em questão e, assim
como na primeira cena (a do "necrofone"), novamente utiliza a música
como um recurso capital da sua narrativa cinematográfica. Desta vez,
a canção "Qui nem jiló" (1950), de Luiz Gonzaga
e Humberto Teixeira, atravessa toda a seqüência de imagens. Inicialmente,
em um ambiente escuro, o cineasta filma, quase em close e com uma movimentação
de câmera bastante vagarosa, o que parece ser um objeto decorativo de
grande luxo. Refiro-me a tal artefato como "objeto" porque o plano
é tão fechado que se faz impossível ter certeza absoluta
em relação à definição do que seja. A velocidade
lenta da filmagem permite que o espectador perceba nitidamente, isto sim,
a sua austeridade e robustez. Há um corte, a escuridão é
sucedida pela claridade do dia. Virgília desce uma escada acompanhada
por um homem elegantemente trajado, projeta o olhar sobre os ombros desnudos
dentro de um vestido azul rodado; tudo isso enquanto Brás a observa
de uma janela. Uma mão aparece em cena, realiza um movimento que sugere
um corte e a música cessa.
A essa altura do filme, o contexto em que se passam as memórias de
Brás Cubas já está dado, ou seja, está claro que
as ações acontecem no Rio de Janeiro, pelos idos do século
XIX, numa fase em que a escravidão ainda está em curso. Está
posto, também, que o narrador era um herdeiro do modo de vida burguês,
com trânsito nos círculos abastados da sociedade. Ademais, nesse
ponto, já é perceptível a natureza superficial das relações
de Brás Cubas com as mulheres. Detentor dessas informações,
o espectador tem na combinação do baião "Qui nem
jiló" com a imagem enigmática do objeto decorativo a chave
de leitura para compreender a transcriação do capítulo
CXXX, dessa vez, com o empréstimo da voz de Luiz Gonzaga.
Novamente a canção é inserida com a obtenção
de um efeito duplamente eficaz, ou seja, o diretor opera com a tradição
do gênero musical e ao mesmo tempo com o empréstimo, pelo menos,
de uma pequena parte da letra como codificação do pensamento,
da fala, ou ainda, das sensações de Brás Cubas, embora
dessa vez me pareça que a atuação desse elemento se dê
de forma menos incisiva na construção de sentido, ou melhor,
que atue de forma diferente nessa construção. Nas cenas em questão,
a música primeiro se faz enigma, pois é executada paralelamente
à filmagem do grandioso objeto, criando um efeito de estranhamento,
pois o baião leva os pensamentos para uma viagem solar em direção
ao Nordeste, enquanto a cena, de duração de aproximadamente
um minuto, embora não possibilite uma visão panorâmica,
remete o espectador a um ambiente noturno de elegância e opulência.
O ritmo descontraído de "Qui nem jiló" se contrapõe
aos sessenta segundos da lenta filmagem do objeto. Esse mesmo ritmo se oferece
ao espectador de Brás Cubas como embalo para uma dança de "rasta
pé", enquanto a imagem noturna do objeto elegante sugere outro
tipo de bailado.
Ricardo Cravo Albin, no seu O livro de ouro da MBP, dedica um longo
trecho ao tradicional baião de Luiz Gonzaga. Segundo ele, o termo que
dá nome ao gênero seria uma derivação de "baiano",
uma dança popular do nordeste do Brasil, já conhecida desde
fins do século XIX. Esse baião de raiz era executado sempre
em unidades de compasso par, com a utilização de viola, pandeiro,
botijão e rabeca. Em 1945, Luiz Gonzaga encontra Humberto Teixeira
e os dois trazem o gênero, sob nova roupagem, ao contexto da música
popular urbana. Esse novo baião é entoado ao som de acordeom,
triangulo e zabumba. Em 1946, os dois apresentam a novidade na canção
"'Baião', por 4 Ases e um Curinga, pelo selo Odeon, cuja letra
dizia, 'Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/E
quem quiser aprender/É só prestar atenção'"[30].
A moldura formal do sucesso urbano do baião, para o autor, foi o "ritmo
buliçoso, alegre e descontraído", que trazia dentro de
si as histórias e os traços do povo Nordeste. Algo semelhante
ao que afirma José Miguel Wisnik.
Na passagem dos anos 40 para os anos 50 é que a música popular no Brasil tomará um aspecto mais abrangente, globalizando o País nas suas regiões e penetrando mais fundo no tecido da vida urbana. Os ritmos nordestinos ganham uma compactação no baião de Luiz Gonzaga (...)[31].
Ou seja, mesmo se espraiando pelos centros urbanos, o baião de Luiz
Gonzaga tinha como característica a forte "nordestinidade"
do seu ritmo e das suas letras, ainda que numa roupagem mais adaptada aos
ouvidos da cidade grande. Vale citar o enorme sucesso de "Asa Branca",
de 1947, uma toada cujo tema é o sofrimento do povo nordestino diante
da seca. Gonzagão, ao som do acordeom, cantou aos quatro ventos: "Quando
olhei a terra ardendo/ Qual fogueira de São João/ Eu perguntei
a Deus do céu/ Por que tamanha judiação".
O que tento mostrar aqui, é que a construção do desajuste,
do descompasso entre o que se ouve e o que se vê na referida cena de
Brás Cubas, faz com que a canção, no que se refere
principalmente à sua letra, acabe funcionando, em alguma medida, como
um som impreciso ao fundo. O estranhamento provocado pela combinação
das imagens com o baião pode ser mais bem compreendido se observado
o raciocínio de José Miguel Wisnik, que lembra que "o grau
de ruído que se ouve num som varia conforme o contexto"[32]. Tal
pensamento amplia as possibilidades de reflexão sobre esse tipo de
sonoridade, freqüentemente associada a sons desagradáveis como
o da microfonia ou o do chiado entre as estações quando giramos
o botão do rádio. O autor lembra, entretanto, que a música,
em determinados contextos, também pode funcionar como algum grau de
ruído:
Um intervalo de terça maior (...) é dissonante durante séculos, no contexto da primeira polifonia medieval, e torna-se plena consonância na música tonal. Um grito pode ser um som habitual no pátio de uma escola e um escândalo na sala de aula ou num concerto de música clássica. Uma balada "brega" pode ser embaladora num baile popular e chocante ou exótica numa festa burguesa (...). Tocar um piano desafinado pode ser uma experiência interessante no caso do ragtime e inviável em se tratando de uma sonata de Mozart. Um cluster (...) pode causar espanto num recital tradicional, sem deixar de ser tedioso e rotinizado num concerto de vanguarda acadêmica. Um show de rock pode ser um pesadelo para os ouvidos do pai e da mãe e, no entanto, funcionar para o filho como canção de ninar no mundo do ruído generalizado[33].
No minuto que a câmera leva para percorrer o elegante objeto, o enigma
proposto pela imagem domina a cena. A indefinição do ruído
se dá muito mais na instância da letra, pois a tradição
do gênero musical em questão, complementada pela voz de Luiz
Gonzaga, tem certo grau de sobrevivência ao mistério. Assim,
ainda que a imagem escura capte quase toda a atenção, para aqueles
que durante as suas vidas tiveram acesso à sonoridade do baião,
a rápida introdução musical no início da cena
não deixa dúvidas. A letra, por outro lado, acaba tendo um efeito
semelhante ao das palavras ouvidas em uma rádio mal sintonizada; o
espectador sabe que algo está sendo codificado, porém não
há área de atenção disponível para a sua
decodificação, visto que o mistério da imagem se impõe[34].
A conversa trivial entre Brás Cubas e Virgília, na qual não
há alusão "a cousa nenhuma do passado"[35], é
traduzida criativamente pela imprecisão da música-ruído.
A música, que faz a ligação entre as duas partes da seqüência,
na segunda já não sofre a concorrência do enigma, o que
torna o som mais evidente. Com o primeiro corte, o espectador passa a ter
diante de si uma imagem panorâmica diurna que lhe permite identificar
claramente o que está acontecendo: Brás Cubas vê de uma
janela Virgília descendo a escada com seu elegante vestido azul. A
parte clara da seqüência dura apenas poucos segundos, que são
suficientes para que Luiz Gonzaga cante duas vezes "Saudade o meu remédio
é cantar", verso que, diante do novo contexto, se faz retumbante.
Ainda que o baião continue não sendo coincidente com a imagem
apresentada, a quebra promovida pela troca da noite pelo dia e pela a repetição
do verso através da voz forte de Luiz Gonzaga funciona como uma espécie
de despertador da atenção. Assim, mesmo que, no filme, Brás
não diga a palavra "magnífica", os dois versos cantados
por Gonzagão dão o tom de retrospectiva que o narrador atribui,
no romance, à sua impressão de Virgília. Portanto, toda
a narrativa referente ao baile e à conversa entre Virgília e
Brás Cubas é recriada na cena escura de um minuto. Bressane
dá andamento ao fim da seqüência sob a luz do dia, reafirmando
a liberdade com que realiza a adaptação. A inclusão,
à vista do espectador, da mão que sinaliza o momento de encerrar
a música reafirma a especificidade da materialidade cinemática.
A utilização de tal recurso coloca simultaneamente em cena o
filme, o processo de filmagem e o romance enquanto origem rasurada.
Epílogo
Entre todas as
rasuras ao texto de Machado, talvez a de maior ousadia seja o quase desaparecimento
da voz definida do narrador, pois apenas poucas frases emblemáticas
da ironia de Brás Cubas foram mantidas, tais como: "Marcela amou-me
durante quinze meses e onze contos de réis", "Porque bonita,
se coxa? Porque coxa, se bonita?", "Virgília comparou a águia
e o pavão, e elegeu a águia, deixando o pavão com seu
espanto, o seu despeito, e três ou quatro beijos que lhe dera. Talvez
cinco beijos". Porém, apesar da voz de narração
quase não aparecer no filme, tal qual configurada no romance, isto
não significa que a narração desapareça, o que
ocorre é que a mesma se dá em Brás Cubas de outra
forma, como se pôde ver. Júlio Bressane enxerga no livro de Machado
um "caráter interdisciplinar, experimental, pois se situa em uma
fronteira-margem. É livro no limite do livro, da música, da
pintura e do...filme!"[36]. Com esses diferentes elementos do romance,
dá-se a construção cinematográfica da narração,
que força os limites entre as linguagens.
O recorte escolhido pinça apenas dois momentos que exemplificam a participação
da música na construção de sentido nessa adaptação
cinematográfica. Contudo, muitos outros se exibem aos olhos e ouvidos
da audiência, tais como, a imagem de Brás Cubas ao piano, o violoncelista
misterioso que aparece e desaparece de cena, a expressão corporal na
dança de Quincas Borba e os incontáveis fragmentos de peças
musicais. Todos exemplos da complexa inserção da música
no filme. Música que se materializa em voz narrativa. Música
que se faz proliferação. A saída é ver e rever
e rever.
Bibliografia
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Pinheiro, Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
[1] GUMBRECHT, Hans Ulrich. Modernização dos sentidos. Trad.
Lawrence Flores Pereira. São Paulo: Editora 34, 1998.
[2] GUMBRECHT,
Hans Ulrich. O Campo não-hermenêutico ou a materialidade da comunicação.
Trad. João Cezar de C. Rocha. In: Corpo e forma. Rio de Janeiro: EdUERJ,
1998, p. 137-151.
[3] ZUMTHOR, Paul.
A letra e a voz: a literatura medieval. Trad. Amálio Pinheiro, Jerusa
Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
[4] GUMBRECHT,
Hans Ulrich. O Campo não-hermenêutico ou a materialidade da comunicação.
In: Corpo e forma, p. 145.
[5] OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Literatura e música, p. 46.
[6] ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
[7] Daqui em diante, por vezes, farei referência a Memórias póstumas de Brás Cubas desta forma.
[8] BRESSANE, Júlio. Brás Cubas. In: Cinemancia, p. 49-59.
[9] BRESSANE, Júlio. Brás Cubas. In: Cinemancia, p. 49-59.
[10] XAVIER, Ismail. Do texto ao filme: a trama, a cena e a construção do olhar no cinema. In: Literatura, cinema e televisão, p. 68.
[11] AVELLAR, José Carlos. Cinema e literatura no Brasil, p. 122.
[12] SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo, p. 29.
[13] Idem, ibidem, p. 56.
[14] Idem, ibidem, p. 191.
[15] WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido, p. 9.
[16] Idem, ibidem, p. 33.
[17] Expressão utilizada por Júlio Bressane no ensaio "Brás Cubas".
[18 ]WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido, p. 33.
[19] BRESSANE, Júlio. Brás Cubas. In: Cinemancia, p. 58.
[20] ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB, p.64.
[21] TINHORÃO,
José Ramos. Música popular: um tema em debate, pp.17-18.
[22] WISNIK, José
Miguel. "Algumas questões de música e política no
Brasil". In: Cultura brasileira - temas e situações, p.119.
[23] TINHORÃO, José Ramos. Música popular: um tema em debate, p. 53.
[24] Segundo Ricardo Cravo Albin, o samba-canção muda bastante a partir dos anos 50, incorporando características orquestrais e temas muito mais latino-americanos. Não é por acaso que o autor dá a esse trecho de seu livro o subtítulo "Estar na fossa". Ele cita como referência os boleros e os cabarés. (pp. 152-159)
[25] Utilizarei
os termos "eu lírico" e "sujeito" para fazer referência
ao "eu" expresso no samba-canção.
[26] ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas, p. 31.
[27] SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo, p. 25.
[28] Ainda que, por vezes, o compasso binário possa ser duplicado, o que resulta em ritmo de quatro tempos.
[29]As divagações de Brás Cubas sobre a duração de seu amor por Virgília estão no capítulo LIII de Memórias póstumas de Brás Cubas.
[30] Verbete "baião" do Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira on-line. O endereço eletrônico é o seguinte: www.dicionariompb.com.br.
[31] WISNIK, José
Miguel. Algumas questões de música e política no Brasil.
In: Cultura brasileira - temas e situações, p. 120.
[32] WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido, p. 32.
[33] Idem, ibidem.
[34] A parte da letra que se torna quase imperceptível é a seguinte: Se a gente lembra só por lembrar/ o amor que a gente um dia perdeu/ saudade inté que assim é bom/ pra cabra se convencer/ que é feliz sem saber/ pois não sofreu - (fim 1a estrofe) - Porém se a gente vive a sonhar/ com alguém que se deseja rever/ saudade entonce aí é ruim/ eu tiro isso por mim/ que vivo doido a sofrer - (fim 2a estrofe) - Ai quem me dera voltar/ pros braços do meu xodó/ saudade assim faz roer/ e amarga que nem jiló - (fim 3a estrofe) - Mas ninguém pode dizer/ que me viu triste a chorar.
[35] ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas, p. 223.
[36] BRESSANE, Júlio. Brás Cubas. In: Cinemancia, p. 51.