A Repom N. 1.

 

 

    Para este número inaugural da REPOM,  Revista de Estudos Poético-musicais, nossa comissão editorial aprovou artigos que tratam de temáticas diversificadas, mas de forma a procurar contemplar alguns gêneros da música popular brasileira.

 

    O primeiro artigo, do pianista e pesquisador Alberto Heller, trata de uma questão teórica crucial para a compreensão da música: a distinção entre ritmo e metro. Heller dissolve de forma bastante clara a usual confusão que leva a  tratar os diferentes gêneros musicais sob o nome de “ritmos” e à utilização do termo como referência ao andamento das canções.

 

    No segundo artigo, Emílio Gozze Pagotto produz uma interessante investigação histórica que procura demonstrar a relação existente entre o samba e o processo disciplinador do Estado Novo. Para problematizar a crença em torno dos rituais ligados ao samba como elementos relacionados com a transgressão e a subversão da ordem, Pagotto demonstra como, desde sua origem, o Carnaval e as escolas de samba estiveram ligados à configuração de identidade por parte das classes populares e à necessidade de imposição de disciplina por parte do poder constituído.

 

    Já Luis Francisco Espíndola Camargo enfrenta o desafio de apresentar o choro como linguagem e rastrear  o sujeito desse discurso musical de um lugar bastante privilegiado: Chico Camargo é psicanalista e integra há alguns anos um grupo de Choro em Floripa, o Cordaviva. Seu artigo traz, portanto, as marcas deste duplo saber: aquele do pesquisador capaz de  operar em fronteiras disciplinares tão complexas como a Psicanálise e a Lingüística e o saber do músico que se configura, antes de tudo, a partir de uma prática e de uma vivência corporal.

 

    Por último, os artigos de Adriane Rodrigues de Oliveira e Alvaro Neder se propõem à tarefa da análise de artefatos híbridos na medida em que se expressam através de convenções musicais e literárias.  Ambos os pesquisadores se dedicam, neste número da REPOM,  a análises de canções. Adriane analise três distintas interpretações de Folhas Secas de Nelson Cavaquinho e Alvaro analisa a canção Alegria, alegria de Caetano Veloso. Ambos realizam suas tarefas com o rigor e a clareza indispensáveis a quem adentra território ainda tão inexplorado dentro da moldura dos estudos culturais.

 

                                                                      Tereza Virginia de Almeida (o Editor)